Após três dias de folga sem protestos – quarta-feira era feriado e quinta-feira e sexta-feira são o fim de semana no país persa – a semana iraniana começou com apelos a manifestações por parte de universidades e ativistas.
Como pode constatar no local a agência EFE, nas imediações da prestigiada Universidade Sharif de Teerão, pequenos grupos de jovens e mulheres sem véu vão-se juntando e gritando slogans, no meio de uma forte presença policial, com dezenas de polícias anti-motim na área.
“Apoiem-nos, apoiem-nos, polícia!”, gritou uma mulher sem véu nas proximidades do centro universitário, apelando à polícia de choque para que se juntasse aos manifestantes.
Numa atmosfera tensa, algumas pessoas discutiram com a polícia quando o primeiro gás lacrimogéneo começou a escurecer as ruas.
“Morte à República Islâmica”, gritou um grupo de jovens numa rua lateral da universidade, acrescentando “República Islâmica nós não te queremos, nós não te queremos”.
Um homem gritou aos oficiais que “não têm honra”, enquanto várias lojas da zona tinham as persianas meio fechados. Também se podiam ouvir tiros, mas não era possível distinguir de que tipo. Além disso, muitos condutores buzinavam, num claro apoio ao protesto.
A Universidade de Tecnologia Sharif foi palco de fortes confrontos com as forças de segurança no domingo passado, levando as autoridades a suspender as aulas no local, apesar de os seus alunos terem anunciado hoje um protesto.
Também estavam a decorrer protestos noutras partes do país, incluindo as cidades de Shiraz, Isfahan, Gohardasht e Kerman, de acordo com vídeos não verificados partilhados nos meios de comunicação social por ativistas e jornalistas.
Os confrontos foram particularmente fortes no Curdistão iraniano, a região de origem de Amini.
A ONG curda Hengaw, com sede em Oslo, relatou fortes confrontos nas cidades de Sanandaj e Saqqqez, nos quais as forças de segurança dispararam contra os manifestantes.
Amini, 22 anos, morreu a 16 de setembro depois de ter sido detida três dias antes pela chamada Polícia Moral de Teerão, com o fundamento de que usava incorretamente o véu islâmico.
O Instituto de Medicina Legal iraniano disse na sexta-feira – e portanto um feriado público – que Amini morreu de uma enfermidade anterior e não de espancamentos policiais.
Segundo o relatório forense do instituto estatal, a morte da foi devida a falência de múltiplos órgãos após hipoxia cerebral (esgotamento do oxigénio) e não foi “causada por golpes na cabeça e nos órgãos vitais e membros do corpo”.
A morte de Amini provocou protestos que têm continuado desde então e que sofreram mutações, desde grandes mobilizações de mulheres que queimam véus e são fortemente reprimidas pelas forças de segurança até universidades e mesmo escolas onde as raparigas removem os véus.
Estes confrontos causaram 41 mortes de acordo com a contagem da televisão estatal na semana passada, mas a ONG Iran Human Rights com sede em Oslo coloca o número em 92.
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