Num dia em que o financiamento para a adaptação dos países mais pobres é um dos temas principais em discussão, o ministro do Ambiente do Gana, Kwaku Afryie, alertou que “é muito desencorajador verificar que o objetivo global [do financiamento para adaptação às alterações climáticas] ainda não está operacional nas salas onde decorrem as negociações”.
“Os negociadores africanos estão a ter muitas dificuldades em promover esta agenda. O que foi dito nas reuniões de alto nível, pelos países do G20 é muito diferente do que se está a passar nas negociações”, declarou numa reunião ministerial sobre adaptação no âmbito da 26.ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas, que decorre em Glasgow, na Escócia.
O seu homólogo do Quénia, Keriako Tobiko, encerrou o encontro de mais de duas horas no mesmo sentido, com um apelo concreto aos países mais ricos: “Ponham o dinheiro na mesa”, referindo-se aos 100 mil milhões de dólares anuais que as nações mais desenvolvidas se comprometeram a contribuir anualmente para financiamento climático e que terá sido cumprida a cerca de 80 por cento.
Além da quantia prometida, reiterou o apelo que é defendido pelas Nações Unidas, para que metade do financiamento climático aos países menos desenvolvidos seja garantida para adaptação e outra metade para mitigação dos efeitos da mudança climática, em medidas que visam reduzir emissões.
“Já houve demasiadas ‘workshops’, demasiados retiros, demasiadas conferências. Diz-se sempre que é tempo de agir agora, que chegou a altura… mas na verdade, já não há tempo”, declarou.
Keriako Tobiko citou diversas declarações feitas na cimeira de líderes mundiais na semana passada, incluída na COP26, prometendo ação concreta e compromissos de financiamento climático para adaptação, mas salientou que “infelizmente”, o que se tem visto é uma prática diferente.
A tónica do discurso, várias vezes reiterada, é que os países que menos emitem são os que mais sofrem: emitem pouco porque são pequenos ou porque as suas economias não são tão desenvolvidas, sofrem mais porque os seus territórios são muito vulneráveis – especialmente no caso de pequenas nações insulares sujeitas à subida dos níveis dos oceanos – ou porque não têm dinheiro próprio para tornar o território e a população resistentes a esses efeitos.
O presidente do Banco de Desenvolvimento Africano, Akinwumi Adesina, anunciou que aquela instituição lançou um programa de aceleração da adaptação no continente, que recebe apenas “03% dos fundos para adaptação” disponíveis e que perde “sete a quinze mil milhões de dólares por ano, um valor que pode chegar a 50 mil milhões em 2040” com os “efeitos devastadores” das alterações climáticas, que incluem seca, inundações e pragas de insetos.
A instituição financeira disponibiliza 12,5 mil milhões a aplicar em áreas como o apoio à agricultura – “mil milhões irão para alimentar 200 milhões de pessoas” -, educação e habitação, mas Adesina pediu aos outros países que contribuam com outro tanto para tornar o programa uma realidade.
A secretária-geral adjunta das Nações Unidas, Amina Mohammed, apontou que há uma “lacuna considerável” entre as necessidades e a realidade no que toca às verbas para adaptação, com “pouco mais de 20 mil milhões de dólares disponíveis, uma fração dos 300 mil milhões que se espera serem necessários” globalmente em 2030.
A enviada especial das Maldivas à COP26, Sabra Nordeen, declarou que “quando o mundo consegue angariar biliões de dólares para responder à pandemia de covid-19 em 18 meses, é de questionar o ritmo e o compromisso real com o financiamento climático e a adaptação”.
O seu país, referiu “é um exemplo dos mais vulneráveis”, obrigado a viver num mundo em que o aumento da temperatura global já atinge mais de um grau em relação à era pré-industrial, o que ameaça a sobrevivência das Maldivas, um arquipélago conhecido pelas praias paradisíacas, mas que se vê ameaçado pela degradação dos recifes de corais que “durante séculos o protegeram”.
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