Tudo mudou quando o local onde trabalhava fechou, por ordem das autoridades, de modo a conter o novo coronavírus. A sua mulher, empregada noutro restaurante, também ficou sem trabalho.

Nos Estados Unidos, a pandemia colocou rapidamente milhões na pobreza e irá aprofundar as desigualdades sociais, ao atingir, primordialmente, os lares mais modestos e a classe média.

"Este é um golpe extraordinário nos milhões de americanos que acabam de recuperar da crise financeira de 2008", diz Edward Alden, especialista do Conselho de Relações Internacionais.

Serão necessários anos até que o vencimento volte aos valores de agora. "Para os trabalhadores com salários mais baixos, o ordenado só aumentou consideravelmente nos últimos dois anos", assinala Alden.

No fim de 2019, os salários baixos aumentaram a um ritmo sem precedentes nos últimos 20 anos, graças, em parte, ao estabelecimento, em certos estados, de um valor mínimo por hora.

Em março, com a redução de 701 mil empregos, houve um fim brutal na criação contínua de postos de trabalho. O desemprego aumentou 4,4%, após registar um mínimo histórico em fevereiro.

Por trás destas cifras, as desigualdades continuam a aumentar para com os muito ricos, que acumulam ganhos substanciais em Wall Street, e os 90% que estão na parte inferior da escala.

A recessão que se seguirá à pandemia de Covid-19 "irá exacerbar a desigualdade", afirma Gregory Daco, economista da consultora Oxford Economics. Isto porque "a perda repentina de empregos se concentra nos setores de serviços de salários baixos".

Poupança escassa

Miguel Rodríguez, de 55 anos, enfrenta uma situação de desemprego pela primeira vez desde que chegou aos Estados Unidos, em 1983. Originário de El Salvador, interroga-se se o subsídio de desemprego será suficiente para atender às necessidades dos seus três filhos, de 10, 13 e 16 anos. Com o que poupou, acredita que conseguirá "sobreviver por apenas poucos meses".

Gregory Daco destaca a desigualdade neste ponto: 78% das pessoas com ordenados mais baixos não têm poupanças para situações de emergência.

"As pessoas que mais precisam são as que menos têm", assinala o economista. "Temos que nos preparar para os impactos no emprego e nos salários, que irão durar, pelo menos, até o começo de 2021", adverte Bradley Hardy, professor da American University.

"Mesmo com a ajuda generosa" do Estado, a recuperação pode levar tempo. "Os trabalhadores e empresas terão que voltar criar uma ligação", assinala Bradley Hardy. Assim como será necessário reconquistar a confiança do consumidor, condição indispensável "para que ele participe plenamente na economia americana".

"Tal como na crise financeira de 2008, isto colocou em evidência a vulnerabilidade enorme de muitos americanos", comenta Edward Alden, especialista do Conselho de Relações Internacionais.

Porém, os mais vulneráveis não conseguiram arranjar meios para a reforma. O número de idosos obrigados a trabalhar não deverá diminuir tão cedo.

"Estou convencido de que esta recessão terá efeitos negativos em todos, inclusive em lares aparentemente confortáveis", confidencia Hardy.

Contudo, Miguel Rodríguez mantém a esperança, apesar da falta de rendimentos: "Assim que estivermos fora desta crise, a economia vai voltar a funcionar, porque as pessoas vão querer sair", confessa.

Por: Delphine Touitou da agência France-Press (AFP)