“Sei que é uma infraestrutura que não pode ser abandonada e desativada, pelo contrário, porque nós, neste momento, precisamos de espaço para ter as munições”, declarou o coronel Amorim Ribeiro, ouvido na comissão parlamentar de inquérito ao furto de material de guerra em Tancos.
Frisando que “não há qualquer risco de segurança”, o coronel afirmou que o Exército tem paióis “que estão no limite da sua capacidade” e que, “obviamente”, é necessário “ter mais espaços”.
A afirmação do coronel, colocado desde outubro de 2018 na Inspeção-Geral do Exército, surgiu na sequência de uma pergunta do deputado centrista Telmo Correia sobre os custos da opção de desativar os paióis de Tancos e das obras nos paióis de Santa Margarida, para onde foi deslocada a maior parte do material que havia em Tancos.
O coronel Amorim Ribeiro, que era o comandante da Unidade de Apoio Geral de Material do Exército [UAGME] quando ocorreu o furto de material de guerra nos paióis de Tancos, discordou que estes paióis nacionais estejam "desativados", afirmando que podem estar vazios, mas não estão "desativados" porque está lá uma força (que assegura a vigilância daquele património).
O militar, que frisou que a UAGME não tinha à sua responsabilidade os dois paióis de onde foi furtado o material, disse que, em outubro de 2016, foram dados “passos importantes” para o reforço das condições de segurança do perímetro de Tancos, nomeadamente para a “implementação da videovigilância”.
Contudo, e admitindo que tenha sido por “falta do vil metal e outras condicionantes”, o plano não foi logo contratualizado, disse o coronel, lembrando que as empreitadas no Estado obedecem a regras apertadas e morosas.
O coronel referiu uma diretiva do então Chefe do Estado-Maior do Exército (CEME), a “diretiva 129 de 2016”, que dá como primeira prioridade a instalação do SICAV nos paióis nacionais de Tancos e em Santa Margarida.
“Por isso contava em 2017 ter o sistema a funcionar nos PNT [Paióis Nacionais de Tancos]. Não sei se foi por alteração de prioridade ou por cativações, não tenho nenhuma ligação com a gestão do orçamento nas suas fontes e rubricas”, acrescentou.
Amorim Ribeiro referiu depois uma visita do então CEME, Rovisco Duarte, em março de 2016, à UAGME para se inteirar das preocupações e necessidades “ao pormenor e não só de Tancos”.
Na sequência dessa visita, “emitiu um despacho” para que se avançasse com duas obras: a substituição de “um terço da rede do perímetro e reparações num `paiolim´ e dois paióis”.
Um despacho “a três meses antes do furto não pode deixar de suscitar interrogações”, assinalou o deputado do PCP Jorge Machado.
Quanto à forma como era assegurada a vigilância de Tancos – as unidades mais próximas da base disponibilizavam efetivos para fazerem as rondas, rotativamente, - o militar disse concordar que “devia ser uma unidade a fazer a segurança”.
E a responsabilidade não deveria recair na UAGME, que está “a largas dezenas de quilómetros e não tem efetivos, nem recursos humanos para esse tipo de missão ou tão pouco para dar o apoio logístico necessário”, acrescentou.
O caso do furto de armas em Tancos ganhou importantes desenvolvimentos em 2018, tendo sido detidos, numa operação do Ministério Público e da Polícia Judiciária, sete militares da Polícia Judiciária Militar (PJM) e da GNR, suspeitos de terem forjado a recuperação do material em conivência com o presumível autor do roubo.
A comissão de inquérito para apurar as responsabilidades políticas no furto de material militar em Tancos tem previstas audições a mais de 60 personalidades e entidades, vai decorrer até maio de 2019 e é prorrogável por mais 90 dias.
Notícia atualização às 22:15
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