A meio da manhã de um dia de semana, um autotanque dos Bombeiros Voluntários de Ferreira do Alentejo, com capacidade para 16 mil litros, entra e faz manobras nas ruas ‘apertadas’ desta aldeia alentejana para fornecer o depósito da água.

Este é o terceiro abastecimento do dia na aldeia, dois deles a cargo dos bombeiros e outro pelo camião-cisterna da câmara.

Até ao meio-dia, a viatura do município faz mais um e, ao todo, até final da manhã, ficam colocados no depósito cerca de 52 mil litros de água.

Atento às manobras dos camiões, José Raposo, habitante de Odivelas, diz à agência Lusa que “a água ainda não faltou porque os homens vão todos os dias, três e quatro vezes, levar água” ao depósito e ao furo que servem a aldeia.

“Não tem chovido, não há água no furo. Eles têm que trazer água para ali, para aquele depósito”, sublinha.

Depois dos quatro abastecimentos realizados de manhã, os autotanques dos bombeiros e da câmara municipal ainda regressam à tarde, devido às dificuldades para manter a água no depósito em níveis aceitáveis.

No centro da aldeia, enquanto dispõe as mesas da esplanada do Café Abelha à sombra do edifício, dado o calor que já ‘aperta’, João Romão afiança à Lusa que o problema da falta de água não é novo e dura “já aos anos”.

Mas, este ano, talvez devido à “situação de mais calor e de menos chuva, os níveis freáticos estão muito baixos”, realça, afirmando: “Está aqui uma grande crise de água”.

A câmara até “fez muito esforço” para resolver a situação, com a aquisição de “um autotanque para abastecer a população”, mas, para este comerciante, “isto não dá” e deve ser encontrada uma solução de futuro.

Tal como “Beja está a ser abastecida pela barragem do Roxo”, também Odivelas, que tem “uma barragem aqui tão perto”, a menos de sete quilómetros, podia ter o abastecimento a partir da albufeira com o mesmo nome da aldeia, nem que fosse “para banhos, lavagens e coisas do género”, sugere.

Quem também aborda à Lusa os problemas da falta de água na aldeia é Maria Gertrudes Bate. À porta do café, lembra que o abastecimento do reservatório “começou no inverno”.

“Até me admirei. Moro ali ao fundo, vejo a entrada para Odivelas e digo assim: então mas estes camiões agora para aqui? Depois, houve alguém que me disse que era um camião novo da câmara que já andava a transportar água para o nosso depósito”, conta.

A poucos dias de começar a Festa Anual de Odivelas, há quem tenha preocupações acrescidas com este período, pois, com a chegada à aldeia de ‘filhos da terra’ e familiares prevê-se o aumento do consumo de água.

Segundo a Câmara de Ferreira do Alentejo, os abastecimentos ininterruptos do depósito de água desta aldeia alentejana começaram no passado dia 12 de junho, mas, antes, já eram feitos de forma “muito pontual”.

O presidente do município, Luís Pita Ameixa, explica à Lusa que o abastecimento público de Odivelas “é um problema já estrutural”, porque a povoação situa-se numa “zona onde é muito difícil encontrar água”.

“A captação que existe em Odivelas e que tem servido para abastecer a população não é muito profunda, é relativamente superficial”, pelo que “é mais suscetível de ser afetada pela seca do que outras”, assinala.

Porém, revela o autarca, a câmara “tem em desenvolvimento um projeto para fazer a condução da água” de uma nova origem para o depósito da localidade, que deverá “entrar em obra tão rápido quanto possível”, mas não a tempo de resolver o problema este verão.

Pita Ameixa frisa que, para já, não estão identificadas outras dificuldades de abastecimento no concelho, devido à seca, mas, se surgirem novos problemas, os bombeiros e a câmara estão “bem equipados” para levar a água em autotanques para que “nunca falte às pessoas”.