Desde o início da semana começou a notar-se uma ligeira diminuição de alunos nas escolas, mas hoje a situação foi generalizada, revelou Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP).

Em conversa com colegas, Filinto Lima não encontrou um único estabelecimento de ensino onde não se notasse o impacto do “receio dos pais de um eventual contágio pelo novo coronavírus”.

“Todos eles (diretores) tinham casos de alunos que hoje não tinham ido às aulas. Os pais dizem: ´enquanto a situação não for resolvida, o meu filho não vai à escola´”, contou à Lusa Filinto Lima, referindo-se à decisão que deverá ser tomada hoje pelo Governo em relação a manter abertas ou fechar todas as escolas.

“A expectativa dos pais e da comunidade escolar era que o parecer do Conselho Nacional de Saúde Pública fosse noutro sentido e os pais optaram por ser eles a prevenir eventuais situações”, afirmou Filinto Lima.

O CNSP decidiu na quarta-feira recomendar que só fossem encerradas as escolas por determinação das autoridades de saúde, não avançando com a ideia dos diretores escolares de antecipar em duas semanas as férias da Páscoa.

Também o presidente da Associação Nacional de Dirigentes Escolares (ANDE), Manuel Pereira, confirmou à Lusa que há menos alunos nas escolas: “Em muitas escolas do país, muitos alunos não vieram à escola por opção clara dos encarregados de educação que optaram por tomar decisões”.

O presidente da ANDE reafirmou “a situação de alarme e muita intranquilidade que se vive na comunidade educativa”.

Uma posição corroborada por Filinto Lima que considera que o ambiente de “angústia e ansiedade não é propício para a aprendizagem”.

Neste momento, acrescentou Filinto, os diretores estão focados em “gerir emoções” de alunos, pais, professores e funcionários, que temem pela propagação do vírus: “A paixão e a emoção está a sobrepor-se à razão”, lamentou.

A Lusa teve conhecimento de muitos casos de encarregados de educação com filhos em escolas públicas e privadas que preferiram que as crianças e adolescentes ficassem em casa. Em alguns casos, os alunos foram à escola apenas realizar testes já marcados.

Filinto Lima reconhece que muitos irão faltar às provas, mas lembra que atualmente a avaliação não é feita apenas com base nessas provas e que as escolas estão a adaptar-se à situação.

Para já, os diretores estão “a aceitar as justificações de falta dos alunos apresentadas pelos pais”.

Para Manuel Pereira a decisão de antecipar em duas semanas as férias da Páscoa poderia quebrar a cadeia de transmissão do novo coronavírus e acalmar a população, porque este não é apenas um problema das escolas mas “de todo o país”.

O representante dos diretores escolares Manuel Pereira lembrou que existem atualmente “duas pandemias” em Portugal: “A pandemia provocada pelo vírus e a pandemia provocada pelo medo” que, na sua opinião, pode ser tão grave como outras pandemias.

“Não ponho em causa o conteúdo do parecer do CNSP que é feito por peritos. O que acho é que o primeiro-ministro deve pôr em cima da mesa o parecer mas também a realidade das escolas que temos vindo a relatar: Há angústia e ansiedade que não é propício para as aprendizagens. O governo não pode governar só por pareceres. Deve tomar as melhores decisões”, acrescentou Filinto Lima.

Depois de muitas horas de reunião, o Conselho Nacional de Saúde Pública recomendou, esta quarta-feira, que só deviam ser encerradas escolas públicas ou privadas por determinação das autoridades de saúde.

A diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, considerou que a orientação “faz sentido” e reafirmou que o encerramento de escolas seria feito de forma casuística “analisando o risco, caso a caso, situação a situação”.

Hoje, está a decorrer uma reunião do Conselho de Ministros para analisar o parecer do CNSP.