“O estado tem obrigação de ajudar as pessoas todas e, nesta altura, desaparecem os conceitos de setor público, privado e social”, afirmou Miguel Guimarães à agência Lusa à margem de um debate organizado pelo International Club de Portugal.

Reconhecendo o Serviço Nacional de Saúde (SNS) português como “o melhor da Europa”, o bastonário admitiu que “infelizmente, não consegue dar resposta a este número elevado de doentes”, indicando que o número de pessoas infetadas com o novo coronavírus está “a aumentar brutalmente” e que isso vai significar mais pessoas a precisarem de ser internadas, algumas delas em cuidados intensivos.

“A situação está a ficar complicada. E quando começa a complicar muito, a tendência é arranjar mais camas para os doentes com covid-19 porque não podemos deixar de os tratar. Passa-se a internar menos doentes para serem operados, anulam-se consultas. Se fizermos isto, é a mesma coisa que se passou na primeira fase [da pandemia], estamos a prejudicar os nossos doentes de sempre, os que têm diabetes, hipertensão, insuficiência cardíaca ou doenças oncológicas”, alertou.

Miguel Guimarães defendeu que “o Estado e a ministra da Saúde têm o dever de proteger todos os portugueses. Esse dever, em tempo de pandemia, significa ter ao seu dispor os recursos – não interessa se públicos ou privados – que o país tem para poder ajudar”.

Esses recursos incluem profissionais de saúde, infraestruturas, camas equipamentos e representam “o que já devia estar planeado e organizado para, se necessário, se utilizar”.

Miguel Guimarães salientou que se fizeram este ano menos um milhão de consultas hospitalares e que ficaram por fazer cerca de 17 milhões de exames, com setores de cuidados de saúde essenciais, como recuperação de doentes e rastreios ao cancro, “praticamente estagnados durante meses”.

O bastonário da Ordem dos Médicos adiantou que o sistema está a recuperar esses doentes mas que com o recrudescimento da propagação do novo coronavírus, estão a ficar novamente “para trás”, uma situação que, deu conta, já se verifica em vários hospitais do norte que estão a adiar consultas e cirurgias e antecipou que “em Lisboa, vai provavelmente acontecer a mesma coisa”.

“Se voltarmos a adiar o acesso aos cuidados de saúde primários, vamos ter um problema muito sério que não vai ser possível recuperar”, considerou, afirmando que é preciso libertar médicos de família de tarefas como “telefonemas diários desnecessários” para pessoas que testaram positivo para o coronavírus SARS-Cov-2, que provoca a doença covid-19, mas que estão em casa assintomáticas.

“Os cuidados de saúde primários, que são a principal porta de entrada no SNS, têm alguns problemas em termos de acesso, porque estão parcialmente bloqueados. Nós temos que rapidamente libertar os nossos médicos de família para se dedicarem a esta função”, defendeu.

Miguel Guimarães referiu que há cerca de 58.000 médicos registados na Ordem, 29.000 dos quais trabalham no SNS, e destes, 10.000 são internos em formação.

Se se retirar do número global os que têm mais de 66 anos que já estão reformados, sobram ainda assim 47.000 médicos, muitos dos quais nos setores privado e social.

“Vamos precisar da ajuda destes setores, senão uma parte significativa dos doentes vai ficar para trás”, reforçou.

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