"Quem vai decidir sobre a vacina [Coronavac] é o Ministério da Saúde e a Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária, órgão regulador]. Havendo a vacina comprovada, vamos fazer uma compra. Mas não é comprar no preço que o caboclo quer. Vamos querer uma planilha de custos e eu quero saber se o país [China] usou a vacina lá no seu país. E, no que depender de mim, não será obrigatória", disse Bolsonaro, na sua transmissão semanal na rede social Facebook.

A declaração do chefe de Estado representa um recuo no posicionamento que vem a adotar desde outubro, ocasião em que frisou que não compraria a "vacina chinesa", obrigando o Ministério da Saúde a recuar na intenção de compra de 46 milhões de doses do imunizante.

Apesar de ainda se encontrar na terceira fase de testes, a vacina já está a ser alvo de uma forte disputa política no Brasil.

A Coronavac está a ser testada no país sul-americano através de uma parceria entre a farmacêutica chinesa Sinovac e as autoridades do estado de São Paulo, cujo governador, João Doria, se tornou um dos adversários mais ferrenhos de Bolsonaro no campo conservador.

Em 20 de outubro, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, anunciou a intenção do Governo central de comprar 46 milhões de doses da fórmula chinesa. Porém, algumas horas após o anúncio, Bolsonaro desautorizou o seu ministro, através das redes sociais, e vetou a compra da Coronavac, argumentando que o imunizante ainda nem sequer tinha superado a fase de testes clínicos.

A recusa do chefe de Estado brasileiro contrasta com um outro acordo - assinado pelo seu Governo com a Universidade de Oxford e com o laboratório AstraZeneca - para a compra de 100 milhões de doses da vacina, que ambas as instituições desenvolvem e que se encontra na mesma fase de estudos que o imunizante da Sinovac.

Na terça-feira, Bolsonaro adensou ainda mais a polémica em torno da vacina, ao declarar "vitória" após a suspensão dos testes da Coronavac, depois da morte de um voluntário.

"Mais uma vitória de Jair Bolsonaro. (...) Morte, invalidez, anomalia. Essa é a vacina que [João] Doria (governador de São Paulo) queria obrigar o povo paulista a tomar”, escreveu Bolsonaro nas redes sociais, após o anúncio da suspensão dos testes da vacina chinesa no Brasil.

A posição do Presidente gerou várias críticas, quer por parte de políticos, quer de profissionais de saúde, que o acusaram de politizar o imunizante e de "comemorar" o óbito de um brasileiro.

Contudo, na manhã de quarta-feira, a Avisa autorizou a retoma dos testes no Brasil, após as autoridades terem concluído que o óbito não estava relacionado com a vacina.

Segundo a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, o voluntário, de 33 anos, morreu devido a intoxicação aguda por sedativos, analgésicos e álcool.

"A vacina parece que tem alguma coisa esquisita. Não vou falar, para não dizerem que estou a politizar. (...) Quando a pessoa comete suicídio, tem um histórico de depressão. Vão apurar a causa do suicídio, que, se comprovado, nada tem a ver com a vacina. Pode ser o efeito colateral da vacina também. Tudo pode ser. Não sei se já chegaram à conclusão, mas esclareçam e voltem a pesquisar a vacina, a Coronavac, da China", disse ainda Bolsonaro, na sua transmissão no Facebook, nesta quinta-feira.

O Brasil é o país lusófono mais afetado pela pandemia e um dos mais atingidos no mundo, ao contabilizar o segundo número de mortos (mais de 5,7 milhões de casos e 164.281 óbitos), depois dos Estados Unidos.