Em declarações aos jornalistas, no final de uma reunião com o presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública, Ricardo Mexia, o líder do CDS-PP evitou sempre pronunciar-se sobre uma medida como o recolher obrigatório e contrapôs que, antes de tomar medidas restritivas, o Governo deve atuar de forma mais firme na testagem, rastreamento e numa comunicação mais eficaz.

“Primeiro tem de se dotar a saúde pública dos recursos humanos necessários para acautelar a testagem, rastreamento e depois o acompanhamento das cadeias de transmissão, de modo a que posam ser interrompidas. E tem de haver uma comunicação pedagógica que permita restabelecer níveis de confiança de saúde pública, sem cacofonias e incoerências”, disse, apontando como exemplo a realização de uma etapa da Fórmula 1 no Algarve num fim de semana e a decisão de interditar a circulação das pessoas entre concelhos no fim de semana seguinte.

Questionado se o partido poderá opor-se a medidas mais restritivas, como o recolher obrigatório ou o regresso ao estado de emergência, Francisco Rodrigues dos Santos disse esperar que não sejam tomadas medidas nacionais.

“Acho que todas as medidas que tiverem de ser adotadas do ponto de vista da saúde pública devem ser cirúrgicas e precisas, ou seja, deve ser privilegiado serem setoriais e regionais e não nacionais para não comprometer a recuperação económica no nosso país”, disse, na véspera de ser recebido pelo primeiro-ministro, António Costa, e dois dias antes do Conselho de Ministros extraordinário que deverá tomar “ações imediatas” para conter o aumento de casos de covid-19.

O líder do CDS-PP acusou a ministra da Saúde, Marta Temido, de “total desnorte” e defendeu que o Serviço Nacional de Saúde (SNS) “não está preparado” para lidar sozinho com a pandemia de covid-19 e todos os outros doentes não covid.

“Não podemos continuar a viver mais nesta ilusão”, defendeu, lamentando que “por preconceito e embirração ideológica” só agora o Governo admita realizar acordos com o setor social e privado para o tratamento dos doentes extra pandemia.

Francisco Rodrigues dos Santos considerou que “o planeamento não existiu” quanto a uma segunda vaga e defendeu que o Governo, antes de tomar medidas restritivas, deveria ter reforçado a capacidade de testar e rastrear.

“É de facto uma desresponsabilização, uma atitude de sacudir a água do capote quando o Governo quer castigar os portugueses com normais mais restritivas quando não está a cumprir a sua parte: nem está a contratualizar com o setor particular e social, nem a dotar a saúde pública dos recursos e meios necessários para testar e depois seguir e rastrear para interromper cadeias de transmissão”, disse.

O líder do CDS-PP afirmou que “não existem rastreadores de saúde pública nas ruas”, como o Governo tinha prometido.

Na mesma linha, o médico Ricardo Mexia defendeu que, antes de se pensar em restrições, é preciso “envolver as pessoas” e “reforçar os meios que permitam interromper as cadeias de transmissão”.

“Acreditamos que há alternativas importantes que temos de implementar antes de entrar nesse cenário, sendo que, na situação em que estamos, já estamos a correr atras do prejuízo”, afirmou.

Para o presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública, se for possível “identificar os contextos em que as pessoas se estão a infetar, faz sentido intervir sobre esses contextos”.

“Se isso implica medidas mais restritivas ou pela via da comunicação e de encontrar formas de mitigar o risco, penso que estas são sempre mais bem aceites pelos cidadãos do que medidas mais genéricas, com mais efeitos nas vidas dos cidadãos e na atividade económica”, assinalou.

Questionado se deve haver um entendimento entre os setores público e privado neste período de pandemia, considerou que, numa situação de absoluta excecionalidade, “pode fazer sentido recrutar outros meios que estejam disponíveis” nos privados.

“Mas isso é uma decisão política, o que interessa é oferecer o melhor aos nossos doentes”, disse.

A pandemia de covid-19 já provocou mais de 1,1 milhões de mortos no mundo desde dezembro do ano passado, incluindo 2.395 em Portugal.