Numa altura em que várias escolas encerraram para prevenir a disseminação do novo coronavírus e no dia em que o Conselho Nacional de Saúde Pública se reúne para ponderar a antecipação das férias escolares da Páscoa, a Lusa ouviu uma psicóloga e um pediatra sobre o modo que os pais devem adotar para abordar o tema junto das crianças.
“O melhor é sempre dizer a verdade, não vale a pena inventar grandes histórias”, considerou Joana Sarmento Moreira, especialista em psicologia infantil, alertando que também é importante “não entrar em grandes detalhes” para evitar ansiedades.
Segundo a psicóloga, as crianças conseguem perceber que, à sua volta, as pessoas estão preocupadas e, por isso, os pais devem ser diretos e honestos, explicando que existem certas medidas preventivas que todos devem seguir.
Maria do Carmo Vale, pediatra, concorda que esta é uma doença que deve ser explicada aos mais novos, mas “dentro das suas possibilidades de entendimento”.
“É importante que se explique que neste momento há um agente infeccioso que está a passar de pessoa para pessoa de uma maneira um bocadinho mais acelerada do que é normal”, sublinhou, acrescentando que, nos casos das escolas encerradas, os pais devem transmitir às crianças que essa é uma medida preventiva, para garantir a sua segurança.
Sobre os cuidados especiais que as pessoas devem ter, designadamente os cuidados de higiene e de etiqueta respiratória, a pediatra acredita que as crianças, de uma maneira geral, já estão “muito bem ensinadas”.
“Assisto muitas crianças que vêm às consultas e quando tossem encostam sempre a boca ao antebraço”, conta a pediatra, sublinhando que esse é um hábito que já está muito interiorizado.
Maria do Carmo Vale considera que, mesmo assim, é muito importante que os pais reforcem a importância destes cuidados, chamando igualmente a atenção para o contacto com os outros, em particular nos casos de crianças que têm irmãos mais novos. “Deve-se explicar que existem outras formas de demonstrar carinho e que não se devem dar muitos beijinhos”, refere.
Segundo as especialistas, o discurso dos pais deve adaptar-se às diferentes idades e se com as crianças os pais devem evitar determinadas conversas sobre o Covid-19 e evitar assistir e comentar as notícias junto dos mais novos, Joana Sarmento Moreira aconselha um diálogo mais aprofundado com os jovens.
“Os mais velhos já acompanham muito a comunicação social, e alguns podem não compreender o que se está a passar e achar que está a haver excesso de zelo”, admitiu a psicóloga, considerando que os pais devem explicar, o melhor possível, a situação e alertar para a incerteza que ainda existe em torno do novo coronavírus, ajudando-os também a selecionar aquilo que é ou não verdade entre a grande quantidade de informação a que têm acesso.
Joana Sarmento Moreira sublinhou também a necessidade de alertar os jovens para o papel que têm na sociedade e para a necessidade de seguirem todas as indicações das autoridades de saúde, referindo-se, por exemplo, ao encerramento de escolas e à importância de respeitar o isolamento social.
Até ao momento, foram encerrados todos os estabelecimentos de ensino nos concelhos de Felgueiras e Lousada, duas em Portimão e na Amadora, além de outros estabelecimentos no ensino privado.
O Conselho Nacional de Saúde Pública (CNSP) tem prevista para hoje à tarde uma reunião para discutir medidas de contenção do surto de Covid-19, como a possibilidade de antecipação das férias escolares da Páscoa.
A epidemia de Covid-19 foi detetada em dezembro, na China, e já provocou mais de 4.300 mortos em 28 países e territórios.
O número de infetados ultrapassou as 120 mil pessoas, com casos registados em 120 países e territórios, incluindo Portugal, que tem 59 casos confirmados.
Em Portugal, a Direção-Geral da Saúde (DGS) atualizou hoje o número de infetados, que registou o maior aumento num dia (18), ao passar de 41 para 59.
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