Perante a possibilidade de o Presidente da República não propor hoje a renovação do estado de emergência, o virologista Pedro Simas adiantou à Lusa que esta decisão “faz todo o sentido” e que, perante a situação epidemiológica do país, o alívio das restrições deve continuar.
“Concordo a 100% com o fim do estado de emergência e com a continuação do desconfinamento. Acho que, neste momento, estamos a caminho do fim [da pandemia]. Temos bons níveis de imunidade que são o somatório da infeção natural [de pessoas que já estiveram infetadas] mais a campanha de vacinação [contra a covid-19] que, neste momento, está a decorrer muito bem”, salientou o virologista.
O investigador do Instituto de Medicina Molecular da Universidade de Lisboa salientou ainda a importância de ter a maior parte dos grupos de risco já protegidos com a vacina contra a covid-19, o que “dá a possibilidade de desconfinar” com maior segurança.
“Temos de ter alguns cuidados, mas agora é altura de continuar a desconfinar. Faz todo o sentido declarar o fim do estado de emergência, mas sem euforias, com alguma cautela até termos os objetivos da vacinação cumpridos”, avançou.
Até final de maio, Portugal já deve ter alcançado cerca de 50% da imunidade contra o vírus SARS-CoV-2, que provoca a covid-19, referiu Pedro Simas, que não antevê que as novas variantes possam resultar num recrudescimento da pandemia em Portugal.
“Não se prevê, com base no conhecimento dos coronavírus endémicos e com aquilo que tem sido o desenvolvimento desta pandemia, que agora uma destas variantes, numa população que já tem uma grande imunidade, assuma uma prevalência muito grande”, disse o especialista.
Com a campanha de vacinação prevista, Pedro Simas admitiu ainda que no verão o país esteja “praticamente de regresso à normalidade”.
“Arrisco-me a dizer que, no final do verão, já não usaremos máscaras pelo menos em espaços abertos”, disse o virologista, ao avançar que não se revê num cenário em que seja necessário “reforçar a imunidade levando vacinas todos os anos de uma forma massiva”.
Jaime Nina, infecciologista do Hospital Egas Moniz, em Lisboa, salientou que o “estado de emergência tem muitos inconvenientes”, devido ao “preço muito alto” que o país teve de pagar, não apenas ao nível económico, mas também no atraso da prestação de cuidados de saúde não-covid.
“O que eu desejo é que o confinamento seja o mais curto possível, mas no outro prato da balança está o risco de haver o reacender da epidemia”, alertou Jaime Nina, para quem a taxa de imunização dos portugueses, através da vacina e da recuperação da doença, ainda é baixa.
"Com um máximo de 30% de imunizados, de maneira nenhuma se impede o vírus de circular. Precisamos de um nível de imunidade na população na casa dos 65 a 70%, que é mais do dobro que neste momento temos”, sublinhou o especialista.
Perante estes “pontos de interrogação”, Jaime Nina aconselha “prudência” na forma como se processa o alívio das restrições, que devem ser levantadas “com cuidado e passo a passo”.
“O estado de emergência é uma declaração mais política. Não vejo inconveniente que o estado de emergência possa ser finalizado e substituído por um estado de vigilância ativa”, disse à Lusa o infecciologista, para quem se pode “baixar o nível de exigência, mas não desarmar completamente”.
O Presidente da República vai falar ao país hoje, pelas 20:00, depois de ouvir os partidos sobre o possível fim do estado de emergência, que já disse esperar que terminasse no fim deste mês.
A pandemia de covid-19 provocou, pelo menos, 3.122.150 mortos no mundo, resultantes de mais de 147,7 milhões de casos de infeção, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
Em Portugal, morreram 16.970 pessoas dos 834.991 casos de infeção confirmados, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.
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