“É preciso interpretar bem o que se passou, que não foi nenhuma falta de oxigénio", salientou António Lacerda Sales à saída da Unidade de Retaguarda de Coimbra, inaugurada ontem para receber doentes covid-19.

O secretário de Estado Adjunto da Saúde referiu-se ao caso que ontem se deu no Hospital Amadora-Sintra, cujos problemas na rede de oxigénio medicinal obrigaram a transferir 53 doentes para outras unidades.

"Entre os mais de 350 doentes internados, mais de 150 estavam em ventilação não invasiva. Por conseguinte, esta exige altos fluxos da ordem dos 40 a 60 litros por minuto. Obviamente que tendo muito doentes com esta pressão de oxigénio, isso vai levar a um aumento do constrangimento na própria estrutura. Para evitarmos que a estrutura pudesse não vir a suportar essa pressão nas tubagens, o que se fez foi preventivamente transferir doentes para outros hospitais", justificou o governante.

Lacerda Sales adiantou ainda que os doentes foram transferidos para várias unidades de saúde do setor público e privado da Área Metropolitana de Lisboa e que hoje mais doentes serão transferidos para o Hospital da Luz.

Questionado se o Governo comprometia a que casos como este não voltassem a acontecer, Lacerda Sales disse apenas que "o Governo está em condições de garantir que fará sempre todos os esforços para que estas situações não se voltem a repetir.”

“Temos sempre a humildade de reconhecer que temos dificuldades, nunca as escondemos", referiu ainda, dizendo que "até agora demonstrámos que tem sido ultrapassadas”.

O secretário de Estado Adjunto da Saúde foi também instado a comentar a carta conjunta assinada pelas administrações de sete hospitais da Área Metropolitana de Lisboa que criticam a distribuição de doentes entre os hospitais da região e dizem que as unidades periféricas têm menor taxa de esforço do que as centrais.

"Eu vi essa carta e estamos sempre muito atentos a todos os sinais que surgem do terreno. O que diz é que há hospitais com diferentes taxas de esforço. O que lhe posso dizer é que estamos atentos essas taxas para equilibrá-las, para que não haja hospitais com 50 a 70% e outros com 25 e 30%", disse aos jornalistas, sublinhando que "esta gestão é muitas vezes feitas em tempo real e de acordo com o que são as necessidades" em conjunto com planeamento prévio.

Já quanto a possíveis críticas pelos atrasos do Governo em reagir à pandemia, Lacerda Sales foi assertivo. “Nós planeamos no devido tempo. Obviamente que executamos no tempo que nos parece mais adequado em função do que são as necessidades. Essa figura mítica do planeamento não deve existir, porque há planeamento, há cenários equacionados e temos soluções para eles. Temos é de nos adequar”, afirmou.

Um dos exemplos foi o da Unidade de Retaguarda de Coimbra, que neste momento tem 31 camas mas pode vir a ter mais 60. “As respostas têm sido adequadas e proporcionais àquilo que são as necessidades. Este hospital surgiu nesta fase e é nela que ele vai ser necessário. Já foram transferidos oito doentes e penso que mais poderão vir", disse o governante.

Pedidos de ajuda internacional na calha mas ainda não formalizados

Questionado pelos jornalistas quanto aos pedidos de ajuda internacional sugeridos previamente pela ministra da Saúde, Marta Temido, Lacerda Sales, referiu que estão a ser equacionados mas que ainda não houve formalização dos pedidos.

Não tendo ainda sido “formalizado completamente”, o pedido de ajuda "está a ser equacionado no âmbito dos sistemas de cooperação europeus, também ele de acordo com a proporcionalidade”, adiantou o governante

Lembrando que "há mecanismos de cooperação internacional, nomeadamente mecanismos ao nível da Comissão Europeia, que são ativados quando é necessário" — e que Espanha, França e Itália foram países a requeri-los na primeira vaga —, o secretário de Estado da Saúde referiu que "há capacidade de ajuda, nesta altura, haverá com certeza por parte de outros estados, como haverá noutras fases em que nós estejamos mais disponíveis, da nossa parte". "Esses mecanismos são bidirecionais", frisou.

Citando a "área dos recursos humanos" como uma das mais necessitadas para Portugal, Lacerda Sales disse, porém, que Portugal apenas pedirá ajuda quando for mesmo necessário. "“Enquanto formos tendo respostas e capacidade de responder às necessidades dos portugueses, vamos respondendo”, disse.

As declarações de Lacerda Sales surge depois de o semanário Expresso ter hoje adiantado que Portugal já pediu ajuda a dois países europeus.

Hospital Militar de Coimbra com capacidade de até 60 camas no apoio à pandemia

A unidade já instalada no Hospital Militar de Coimbra tem de momento 31 camas para doentes com covid-19, 21 destas com rampas de oxigénio, tendo uma "capacidade de expandir até às 60 camas", disse António Lacerda Sales, na companhia do coordenador para a covid-19 na região Centro e secretário de Estado da Juventude e do Desporto, João Paulo Rebelo.

Segundo o membro do Governo, a unidade já está a receber utentes, estando preparada para acolher "doentes de média e baixa complexidade", infetados com covid-19.

"Coimbra tem uma estrutura pública boa e agora surgiu esta estrutura que vai ser muito útil", salientou.

De acordo com António Lacerda Sales, os recursos humanos são assegurados pela Cruz Vermelha.

Questionado sobre o porquê de não serem já asseguradas as 60 camas, o secretário de Estado realçou que essa é uma decisão dos órgãos diretivos, nomeadamente da Administração Regional de Saúde do Centro e do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra.

"Temos sempre capacidade de nos ir reinventando nesse limite, para criar expansibilidade da rede. Esta é mais uma alternativa e garantidamente que, se órgãos diretivos assim o entenderem, serão abertas as restantes camas", salientou.

O presidente da Câmara de Coimbra, Manuel Machado, sublinhou que esta estrutura de retaguarda funciona de forma complementar, salientando a conjugação de esforços entre as diversas entidades para assegurar "mais este ponto de apoio".

"O que interessa hoje é combater a pandemia, como é exemplo este trabalho", disse o autarca, também presente na visita, referindo que foi a Câmara Municipal que assegurou o acolhimento dos profissionais de saúde em hotéis da cidade.

Em declarações aos jornalistas, Manuel Machado avançou ainda que o município já disponibilizou o Pavilhão Multidesportos Mário Mexia como centro para vacinação em massa, quando essa fase arrancar.

"Tem boa localização, boas acessibilidades e reúne as condições técnicas", acrescentou.

[Notícia atualizada às 14:10]

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