Quando um médico de qualquer ponto do país liga ao Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) a pedir um teste a um doente com sintomas de ser portador da doença, a “sala de situação nacional” na sede em Lisboa aciona uma ambulância e dois enfermeiros no local mais próximo.

O pedido pode ser feito para um local próximo da sede do INEM, como foi o caso de uma solicitação para o bairro da Quinta do Mocho, no concelho de Loures, que a Lusa acompanhou.

Atribuído o “serviço”, a ambulância sai do INEM com dois enfermeiros e enquanto um conduz, o outro fala ao telefone com o doente e dá indicações para que esteja preparado para fazer o teste.

Trata-se de um homem de 27 anos que está com febre e dores no corpo. O enfermeiro do INEM previne-o para não sair de casa e só abrir a porta quando tocarem.

Chegados ao prédio, escolhem o melhor local para apenas um deles, o enfermeiro que vai entrar na casa, vestir todo o equipamento, de acordo com uma lista que a colega lhe vai indicando.

Desinfeção das mãos, três luvas em cada mão, touca, máscara, óculos, fato por cima do equipamento do INEM, proteção nos pés, é o que manda o protocolo.

O outro elemento da equipa também está protegido, mas menos, porque não estará em contacto com o doente.

Só depois de cumpridos os procedimentos de proteção é que o enfermeiro entra na residência do doente para fazer a colheita da amostra no nariz e na garganta.

A colheita é depois guardada num ‘kit’ para ser entregue no laboratório.

“Esta colheita correu bem, (…) o senhor colaborou na colheita. A única dificuldade sentida foi que efetivamente ele não se expressa muito bem em português, tem algumas dificuldades, de resto correu tudo normalmente”, contou à Lusa o enfermeiro António Santos.

À saída, novo procedimento de segurança para retirada do equipamento e desinfeção das mãos. Tudo é colocado num saco do lixo que é depois selado. O lixo vai para um contentor que está no interior da ambulância.

A operação pode demorar, com transporte, entre uma hora e uma hora e meia. Além destes passos, os enfermeiros têm ainda de preencher um formulário e um questionário.

O enfermeiro não esconde o principal receio: “é ficarmos contaminados, infetados”.

O INEM já tem 15 profissionais infetados com o coronavírus que provoca a covid-19, mas para já a doença ainda não está a ter reflexos no serviço.

Até 3 de abril, o INEM fez 1.810 colheitas.

Meios para testes e transferência de doentes nas mãos de técnicos jovens

A área do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) dedicada à covid-19, centralizada na “sala de situação nacional”, em Lisboa, assegura a transferência de doentes entre hospitais e colheitas para análise ao novo coronavírus.

Os cinco jovens técnicos de emergência pré-hospitalar fazem turnos de 12 horas para assegurar o serviço 24 sobre 24 horas.

A longa jornada de trabalho é passada ao telefone com médicos e no preenchimento de quadros no computador, de fichas em papel e na colocação dos mesmos dados, à mão, com um marcador, num quadro branco como os das salas de aula. Deste modo fica assegurado que a informação não se perde em caso de falha informática.

É para estes técnicos que os médicos ligam, quer estejam nos hospitais, centros de saúde ou lares, em qualquer zona do país. Ligam a pedir ambulâncias para transferir doentes ou a pedir colheitas em doentes suspeitos para detetar se estão infetados com o novo coronavírus.

Até 03 de abril, o INEM realizou 1.810 colheitas e efetuou 895 transportes relacionados com a pandemia de covid-19. Numa manhã, a agência Lusa assistiu a vários pedidos.

Um médico pediu 16 colheitas em utentes de uma unidade de cuidados continuados no concelho de Paredes, na Área Metropolitana do Porto.

Cabe a estes operacionais gerir os meios: acionar a viatura, a equipa de enfermeiros e respetivos ‘kits’ de recolha, neste caso fornecidos pelo Hospital de São João, no Porto, e entrega em laboratório) para que a recolha se concretize. Tudo se resolve ao telefone.

Mais a norte, foi pedida uma colheita a um recluso do estabelecimento prisional de Vila Real. E do Algarve, no sul do país, chegou um pedido para a realização de um teste a um homem de 94 anos que está num lar em São Bartolomeu.

Neste caso, explicaram à Lusa os técnicos, a mesma equipa do Algarve já tinha saído de manhã de Faro para Portimão, onde fez três colheitas, e dali seguiu para São Bartolomeu, concelho de Silves.

O telefone toca sempre ao ouvido do operacional, que usa um auscultador, e só se percebe que há um contacto quando se ouve “sala de situação nacional, bom dia”, tanto para pedidos de colheitas como para os pedidos de transferência de doentes mais graves.

De Odemira, no Alentejo, um médico pede a transferência de um doente de 48 anos, com falta de ar e com febre, da unidade local de saúde para o Hospital de Santiago do Cacém.

Do Porto, o Hospital de São João pede uma transferência para o Hospital de Santo António, na mesma cidade. Trata-se de um doente com a doença covid-19, de 67 anos, que se encontra entubado e ventilado nos cuidados intensivos.

O pedido chegou às 10:50, e tudo terá de estar pronto às 12:00. Sobre as razões do pedido, os técnicos não respondem, apenas dizem que se trata de gerir os cuidados intensivos.

Mas é nestes casos de transferência de doentes graves que do nada alguém soltou: “Calma, respira”.

Para respirar fundo, olhar o céu e a rua os operacionais dispõem nesta sala retangular de uma janela, já que as paredes em redor das três mesas de trabalho estão preenchidas com um ecrã gigante com dados sobre as colheitas feitas pelo INEM e os números do boletim epidemiológico da Direção-Geral da Saúde.

Há também um monitor de computador que ocupa uma parte da parede com o mapa do país e as ambulâncias do instituto e televisões que só dão imagem, estão sem som.

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