Portugal tinha, no dia 31 de janeiro, 15 crianças até aos 9 anos internadas em enfermarias e uma em unidade de cuidados intensivos (UCI) por causa da covid-19, revela hoje o jornal ‘Público’, citando dados da Direção-Geral da Saúde (DGS). No mesmo dia, um jovem com idade entre os 10 e os 19 estava também em unidade de cuidados intensivos, numa faixa etária que tinha 16 internados em enfermaria.

Gonçalo Cordeiro Ferreira, diretor da pediatria do Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central, onde está incluido o Hospital de Dona Estefânia, explica que como “aumentou a circulação do vírus” responsável pela covid-19, “as idades que apanhavam menos apanham mais”. Àquele diário, o médico esclarece que “houve um aumento global” e isso reflete-se nos números dos mais jovens: “Se é mais grave a doença, não. Se há mais número de doentes com critérios de gravidade, sim. Porque aumentou o número absoluto”.

Os números avançados também hoje pelo ‘Jornal de Notícias’ mostram isso mesmo: em apenas um mês, o total de internados com covid-19 aumentou quase 142%, de 2.840 doentes para 6.869. Nos grupos etários mais jovens, até aos 39, o número de internados quase triplicou, aumentando 188% — de 76 para 219 —, revelam os números dados também pela DGS.

Já se forem contados apenas os jovens entre os 20 e os 29 anos, o número de internados teve um aumento de 511%, dos 9 para os 55 internados.

“Comparativamente à primeira onda talvez existam infetados mais jovens, mas não são de maneira nenhuma o grupo prevalente", esclarece Fernando Maltez, diretor do Serviço de Infeciologia do Hospital Curry Cabral, também em Lisboa. O especialista destaca que o maior grupo de internados daquele serviço tem mais de 50 anos. Aliás, a média de idades é de 73 anos, e o maior número de doentes continua a estar "acima dos 80 anos”, diz.

Estes números, no entanto, têm de ser lidos com “muita atenção”, avisa Gonçalo Cordeiro Ferreira. É que algumas crianças internadas nas chamadas “camas covid-19” estão nos hospitais por outra doenças; porém, “como tiveram um resultado positivo num teste para detectar SARS-CoV-2, tiveram de ficar numa cama dedicada à doença e num quarto de isolamento. Mas não têm doença covid-19”.

Fernando Maltez diz, contudo, que "alguns [jovens] não têm comorbilidades associadas, nem se conhecem antecedentes que façam pensar em risco aumentado para a infeção”: "até há data eram saudáveis”.

A 1 de fevereiro, o Dona Estefânia tinha nove crianças e jovens internados: “quatro, dos 0 aos 9, e outros quatro, dos 10 aos 19, em enfermaria; e um em cuidados intensivos, entre os 10 e os 17”, enumera o ‘Público’. Na manhã do dia seguinte, havia já 11 internados, dez em enfermaria e um em cuidados intensivos. Destes 11, sete tinham a doença covid-19, incluido o internado em UCI. Os restantes estavam internados por outras doenças, tendo, porém, testado positivo ao novo coronavírus.

“Isso significa muito concretamente que haver muitos internados com SARS-CoV-2 não quer dizer que seja uma manifestação da doença covid-19, é mais uma relação de casualidade do que causalidade”, explica Gonçalo Cordeiro Ferreira.

Já no Hospital Pediátrico do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, havia, a 2 de fevereiro, apenas duas crianças internadas em camas dedicadas à covid-19: nenhum desenvolveu a doença, mas ambos, incluindo um bebé de dois dias, testaram positivo ao vírus. Também ali houve “um aumento de casos internados e de casos com maior gravidade”, mas sem “necessidade de expansão do número de vagas para além das acauteladas no primeiro nível do plano de contingência, apesar de o Hospital Pediátrico do CHUC ser o único hospital de referência para covid-19 na região centro do país”, explica o gabinete de comunicação daquela unidade hospitalar ao ‘Público’.

Para Margarida Tavares, infecciologista no Hospital de S. João, no Porto, esta subida acompanha a das outras faixas etárias, estando em linha com o aumento da doença. “Não acho que o perfil tenha mudado", diz ao ‘JN’, revelando ainda que nos mais jovens a obesidade mórbida é a doença associada mais frequente. A médica lembra, contudo,  que apesar d os mais novos terem maior capacidade para recuperar, quando o seu estado se agrava "evoluem muito mal", e a cura pode ser muito demorada.