“É garantido que estamos perante um ignóbil aproveitamento do cariz emocional da pandemia para, a pretexto disso, promover uma cega redução de custos, pondo em prática opções estratégicas de gestão ideológica que poderão validar os rumores que dão conta da intenção de venda da cota da empresa, que ainda é nacional, para mãos estrangeiras”, avança a CT em comunicado.

A reação da CT surge depois de, na terça-feira, o Super Bock Group ter anunciado que decidiu reduzir a sua força de trabalho em 10%, devido ao impacto da pandemia de covid-19.

De acordo com a CT, nos últimos anos tem havido uma “acentuada descapitalização humana da empresa” e a anunciada redução de pessoal poderá comprometer a capacidade produtiva da empresa que, no verão, “necessitará, como já necessita, de mais trabalhadores”.

“Com o processo de desconfinamento social, a fábrica assumiu níveis de produção de quase 100%, em alguns casos acima disso”, conta a estrutura representativa dos trabalhadores, indicando que há situações em que as pessoas estão a trabalhar 24 horas por dia, com recurso ao trabalho suplementar.

A CT afirma ainda que as informações da administração que chegam à CT “garantem a boa saúde financeira da empresa” e prova disso “é a recente aquisição dos terrenos adjacentes à fábrica, sem propósito definido, precavendo eventuais necessidades de expansão, por um custo perto dos 5 milhões de euros”.

“A empresa tem atingido resultados extraordinários, permitindo que se financie a si própria, mantendo os índices de endividamento em valores residuais, sem necessidade de qualquer injeção de capital por parte dos acionistas, que se limitam a, anualmente, vir recolher os lucros”, sublinha a CT.

A organização refere ainda que “em pleno estado de pandemia” a frota automóvel para os diretores e administradores foi renovada o que mostra que “o interesse incide exclusivamente no corte com salários, mostrando que o acessório, supérfluo e luxuoso, para benefício dos mesmos, são inalienáveis”.

“A afirmação de que “as pessoas são o mais importante”, que as últimas iniciativas de comunicação interna têm explorado até à exaustão, nos vídeos do “regresso ao trabalho presencial”, é afinal, lamentavelmente, mera propaganda corporativa”, considera.

A CT diz que irá promover, “no imediato” a realização de plenários sobre o assunto.
Na terça-feira, em comunicado, a empresa anunciou que a "significativa redução da atividade do Super Bock Group provocada pelo efeito da pandemia covid-19, bem como o cenário de recessão previsto para o futuro próximo, forçam a empresa a reajustar a sua estrutura para defender e proteger a sustentabilidade do grupo".

No mesmo comunicado, a empresa refere que a paragem e atuais constrangimentos do canal HoReCa (hotéis, restaurantes e cafés), que "representa cerca de 70% do mercado de bebidas refrescantes em Portugal (fonte Nielsen)" irão "prolongar-se e continuar a ter um significativo impacto no desempenho do Super Bock Group".

"Esta difícil decisão implica um reajustamento que afetará cerca de 10% da força de trabalho em diferentes áreas da organização", sendo "tomada perante uma conjuntura excecional e foi anunciada, esta tarde, à Comissão de Trabalhadores e a todos os colaboradores do grupo num processo que terá início este mês de junho", adiantou a
empresa.

No último relatório de gestão publicado no seu 'site', referente a 2018, o grupo indicava que tinha 1.310 colaboradores, dos quais 1.060 efetivos.
Além da cerveja Super Bock, o grupo conta ainda com as marcas de águas Pedras e Vitalis, a sidra Somersby, entre outras, além de uma aposta no turismo, com unidades hoteleiras, como o Vidago Palace e o Pedras Salgadas Spa & Nature Park.