“A verdadeira pandemia chega agora. Também aqui [na Alemanha]. Quanto muito, poderemos falar das lições da primeira vaga na Europa”, em que as diferenças foram enormes, sublinhou Drosten numa entrevista para a Cimeira Mundial da Saúde (CMS), que decorrerá em Berlim de 25 a 27 deste mês num formato semi-presencial devido à covid-19.
O especialista alemão recomendou que, face à forma como a primeira vaga foi combatida, se deve alterar a abordagem de luta contra a pandemia, para que se possa enfrentar a situação nos próximos meses.
“É bastante importante informar bem e amplamente a população”, frisou Drosten, que avisou para os perigos de os políticos utilizarem a pandemia nas suas mensagens políticas.
“Os custos podem ser graves se os políticos utilizarem a pandemia nas suas mensagens políticas. Isso é muito complicado e o vírus passa imediatamente a fatura. Podemos ver o que está a acontecer nos Estados Unidos”, o país com maior número de casos de covid-19 (quase 6,9 milhões) e de óbitos (200.818), observou.
Nos próximos meses, recomendou, e para controlar a situação, é necessário “alterar as coisas” e também é importante tomar “decisões pragmáticas”.
O especialista germânico relativizou os discursos sobre o “êxito alemão” no combate à pandemia, sustentando que tal apenas se deve ao facto de a Alemanha ter reagido quatro semanas mais cedo do que outros países.
“Reagimos exatamente com os mesmos meios. Não há nada em particular que tenhamos feito bem. Simplesmente fizemo-lo antes. Por isso temos tido êxito”, afirmou, negando que as autoridades sanitárias alemãs tenham funcionado melhor do que as francesas ou que os hospitais germânicos estejam mais bem equipados do que os italianos.
“Se aplicarmos isto ao que vem aí no outono, então teremos de deixar claro que continuamos sem fazer nada melhor que os outros”, advertiu.
Drosten deu como exemplo o caso da Argentina, onde a pandemia surgiu no inverno e, por essa razão, está a ser “muito difícil” controlar a propagação da covid-19 apesar das medidas restritivas.
“Na Alemanha deveríamos olhar de forma muito mais diferenciada e precisa para o que se passa no estrangeiro. Temos de deixar de discutir assuntos como estádios de futebol, algo completamente falacioso”, afirmou
Por outro lado, Drosten lembrou que a ciência goza atualmente de uma “grande credibilidade”, mas advertiu que tal pode mudar “a qualquer momento”.
“Só no final se saberá como a ciência o fez, porque esta pandemia, em primeiro lugar, não é um fenómeno científico, mas sim uma catástrofe natural”, observou.
A pandemia de covid-19 já provocou pelo menos 971.677 mortos e mais de 31,6 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
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