Os partidos da oposição uniram-se quanto à solução: eleições antecipadas. À direita, PSD, Iniciativa Liberal, Chega e CDS querem que os portugueses vão a votos. À esquerda, do PCP ao Bloco de Esquerda, aconteceu o mesmo. E até o PS, partido do Governo e que tinha maioria no parlamento, afirmou-se preparado tanto para eleições como para mudança de liderança do executivo.

Mas a solução para a crise política só será conhecida nos próximos dias, depois de o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, receber os partidos com assento parlamentar na quarta-feira e reunir o Conselho de Estado, no dia seguinte, quinta-feira.

A 19 dias de completar oito anos de mandato em São Bento como primeiro-ministro, desde 2015, António Costa disse ter sido surpreendido com a informação de que lhe ia ser instaurado um processo-crime pelo Ministério Público junto do Supremo Tribunal de Justiça. E garantiu que “desconhecia em absoluto a essência de qualquer processo”.

Independentemente do processo, disse, “a dignidade da função de primeiro-ministro e a confiança que os portugueses têm de ter nas instituições é absolutamente incompatível com o facto de alguém, que é o primeiro-ministro, estar sob suspeição da sua integridade, boa conduta ou ser objeto de um processo-crime”.

“O prestígio das instituições democráticas, que me cabe acima de tudo preservar, torna incompatível que se mantenha em funções quem, através de um gabinete de imprensa da Procuradoria-Geral da República, toma conhecimento que já foi, ou vai ser, aberto um processo-crime contra mim”, acrescentou.

A manhã tinha sido dominada pelas notícias das buscas da PSP e do Ministério Público sobre os projetos de lítio e hidrogénio, em que, segundo a Procuradoria-Geral da República (PGR), estarão em causa os crimes de prevaricação, de corrupção ativa e passiva de titular de cargo político e de tráfico de influência. Entre os envolvidos estavam o seu chefe de gabinete, Vítor Escária, que foi detido, e o ministro das Infraestruturas, João Galamba, que é arguido.

Mas só com o comunicado da PGR se soube que estava envolvido António Costa, que recusou a prática “de qualquer ato ilícito” ou censurável, e manifestou total disponibilidade para colaborar com a justiça “em tudo o que entenda necessário”.

O chefe de gabinete do primeiro-ministro, Vítor Escária, o presidente da Câmara de Sines, Nuno Mascarenhas, dois administradores da sociedade Start Campus e um consultor - que não é identificado, embora vários jornais tenham identificado como Diogo Lacerda, advogado e empresário próximo de Costa - foram detidos no âmbito da investigação aos negócios do lítio e hidrogénio verde.

Em silêncio esteve, hoje, o Presidente da República, embora, no passado, tenha falado sobre cenários em que esta crise encaixa.

Em 30 de março de 2022, na posse do atual Governo, Marcelo avisou António Costa que "não será politicamente fácil" a sua substituição na chefia do Governo a meio da legislatura, dando a entender que nesse caso convocaria legislativas antecipadas.

Já em 24 de janeiro deste ano, foi mais definitivo e afirmou que, "se mudar o primeiro-ministro, há dissolução do parlamento", referindo-se à "hipótese teórica de aparecer um outro primeiro-ministro da área do PS".