Assunção Cristas justificou a moção de censura, que é debatida esta quarta-feira pelo parlamento, com “o esgotamento” do executivo, “incapaz de encontrar soluções” para o país e de só estar a pensar “nas próximas eleições”.

Após a conferência de imprensa de Cristas, demorou pouco menos de duas horas, até às 18:00, para se perceber pela posição do PS, PCP e BE qual o destino da moção de censura intitulada “Recuperar o futuro”. Mesmo que, em teoria, o PSD se abstivesse, o chumbo era o destino, dado que para ser aprovada precisaria 116 votos a favor.

A aprovação da moção de censura implicaria, constitucionalmente, a queda do Governo.

No parlamento, sucederam-se as declarações do PCP e do BE – votavam contra. O PEV remeteu a posição para o fim de semana, mas no sábado também alinhou no voto contra. O PS, naturalmente, vota contra.

O PSD reservou para mais tarde uma resposta definitiva e o apoio à moção do CDS apenas foi confirmado na segunda-feira de manhã, passados três dias depois de Assunção a anunciar.

O anúncio da moção foi feito na sexta-feira, véspera de duas convenções partidárias - uma europeia, do PS, para divulgar o nome de Pedro Marques para cabeça de lista às eleições de maio, e outra, nacional, do PSD, para discutir propostas para as legislativas de outubro – e a dois dias de uma remodelação governamental, decorrente das escolhas dos socialistas para as europeias, noticiada há semanas pelos jornais.

Um tema abordado pela presidente dos centristas ao dizer: “Se a preocupação central do PS é a propaganda eleitoral, prometendo agora tudo o que não fez ao longo de quase quatro anos, a própria remodelação já não é um exercício de governação, mas uma mera conveniência eleitoral e de propaganda que nada acrescenta, nós não ficaremos à espera", afirmou.

O previsível voto contra do PS e das "esquerdas unidas", como Cristas chama à coligação de partidos no apoio ao executivo, deixaria o CDS isolado, mas Assunção Cristas desdramatizou a falta de diálogo à direita.

"O debate é feito no parlamento. O CDS não tem nenhum medo de ficar sozinho. O CDS sente que tem ao seu lado uma grande e boa parte do país com quem nós falamos diariamente", disse ainda.

O texto da moção são três páginas e meia, 13.612 carateres, com o título "Recuperar o futuro", em que se focam o que o CDS considera "falhanços" do executivo minoritário do PS, com o apoio das "esquerdas unidas", como Cristas lhes chama, a começar pela saúde e as paralisações e instabilidade neste setor.

O investimento público, em "mínimos históricos", é outro problema apontado ao Governo minoritário chefiado por António Costa, "ao contrário de todas as promessas". Um exemplo disso é o desinvestimento, por exemplo, na ferrovia, que ficou em 5% do previsto até dezembro de 2018.

Os três anos e meio de governação do PS foram, para o CDS, "uma oportunidade perdida", dado que caiu "a qualidade e capacidade dos serviços", ao mesmo tempo que se está a "agravar a carga fiscal" sobre os portugueses, "a maior carga de sempre".

O executivo, acusam ainda os centristas, "não faz o que devia para estimular" a economia e compromete Portugal na União Europeia (UE), ao "apoiar o fim da regra da unanimidade em matéria fiscal".

"O Governo falha às pessoas, falha na dimensão social, falha na economia, falha no investimento e falha na soberania e segurança dos portugueses", lê-se ainda no texto da moção.

Assunção Cristas sintetizou a crítica numa frase: "O Governo está esgotado e o primeiro-ministro perdido. Um Governo que cria problemas, mas que é incapaz de encontrar soluções. Um Governo desorientado, desconcertado, sem ambição e sem programa."

Esta será a segunda moção de censura ao Governo minoritário do PS, chefiado por António Costa, ambas apresentadas pelo CDS, e a 30.ª em 45 anos de democracia, após o 25 de abril.