Perante o tribunal, numa longa argumentação, o advogado de Depardieu, Jérémie Assous, defendeu a anulação do processo, que considerou ter sido  ”atropelado desde o início pelo Ministério Público”, com uma “investigação policial mal feita” e “métodos estalinistas” por parte da acusação, segundo a agência France Presse (AFP).

Assous desenhou ainda uma suposta conspiração entre queixosas, denunciantes, comunicação social e polícia, com a intenção de “derrubar um monstro sagrado” do cinema francês.

O julgamento de Gérard Depardieu, por agressão sexual, assédio e abuso teve início hoje à tarde no Tribunal Penal de Paris, na presença do ator e das duas queixosas, uma cenógrafa e uma assistente de realização do filme de Becker.

Para a acusação, os argumentos da defesa visaram apenas ganhar tempo para evitar que se chegasse “à substância do caso”, segundo a advogada de uma das queixosas, Carine Durrieu-Diebolt, citada pela AFP.

A sessão teve início por volta das 13:45 locais (12:45 em Lisboa). Na sala de audiências, atrás do ator, sentado de frente para os juizes, estavam a sua filha Roxane, acompanhada pela mãe, Karine Silla, e o ator Vincent Perez.

Do lado oposto do corredor central, na primeira fila, encontravam-se as duas queixosas, Amélie, de 54 anos, e Sarah (nome fictício), de 34, que foram apoiadas por “várias dezenas de pessoas” à porta do tribunal, que denunciavam “violência sexista, justiça cúmplice” e defendiam que se acreditasse nas vítimas, “não nos violadores”.

Na queixa apresentada em fevereiro de 2024, Amélie denunciou acontecimentos que remontam a setembro de 2021, que terão ocorrido durante as filmagens de “Le Volets Verts” numa mansão privada no 16.º bairro de Paris. No seu relato ao ‘site’ de investigação Mediapart, citado pela AFP, a cenógrafa disse que Depardieu, entre gritos, se queixou de não conseguir ter uma eração, por causa do calor, gabou-se de “fazer as mulheres gozarem sem lhes tocar” e, mais tarde, agarrou-a com força, ao mesmo tempo que fazia “comentários obscenos”.

A assistente de realização Sarah acusa Gérard Depardieu de lhe ter tocado duas vezes, no “peito e nas nádegas”, durante a rodagem do mesmo filme, em agosto de 2021, segundo o Mediapart.

O julgamento que hoje se iniciou esteve agendado para o outono, mas foi adiado por razões médicas. O ator foi declarado apto para ser julgado, mas o juiz presidente explicou que as audiências não deveriam exceder as seis horas, com um lanche para Depardieu após três horas, acesso privado a uma casa de banho e oportunidade de verificar o seu nível de açúcar no sangue.

Gérard Depardieu foi acusado de agressão sexual e abuso por cerca de vinte mulheres, mas vários processos prescreveram.

A atriz Charlotte Arnould foi a primeira a apresentar queixa do ator, em 2018. Em agosto passado, o Ministério Público de Paris requereu o julgamento do ator por violação, mas o juiz de instrução encarregado do caso ainda não decidiu o desfecho.

“Nunca, nunca abusei de uma mulher”, garantiu o ator numa carta aberta publicada no jornal Le Figaro em outubro de 2023.

Dois meses depois, o Presidente francês, Emmanuel Macron, causou polémica ao elogiar o “grande ator” que “deixa França orgulhosa”, denunciando “uma caça ao homem”.

Premiado com um César de Melhor Ator em 1981 pelo desempenho em “O Último Metro”, de François Truffaut, e em 1991 por “Cyrano de Bergerac”, de Jean-Paul Rappeneau, Gérard Depardieu foi durante várias décadas o ator de referência do cinema francês.