No dedo, Amanda Gorman trazia um anel em forma de jaula, que lhe terá sido oferecido por Oprah Winfrey, como referência ao livro “Sei Porque Canta o Pássaro na Gaiola”, de Maya Angelou, que em 1993 ocupava o mesmo lugar durante a tomada de posse de Bill Clinton.
“Quando chega o dia, perguntamo-nos onde podemos encontrar a luz, nesta sombra sem fim?”, foi este o ponto de partida do poema declamado pela jovem Amanda Gorman, que na quarta-feira, subiu os degraus do palanque no Capitólio para se juntar a nomes como Maya Angelou, Robert Frost, Miller Williams, Elizabeth Alexander e Richard Blanco, tornando-se a sexta poetisa a declamar numa tomada de posse presidencial e a mais jovem.
Com os olhos do mundo inteiro em si, durante cinco minutos roubou o protagonismo a Biden, com uma declamação que comoveu a plateia e se espalhou pelas redes sociais.
Com o gosto pela poesia desde criança, foi incentivada a ler e escrever pela mãe que é professora. O primeiro livro, "The One for Whom Food Is Not Enough" (Aquele a quem a comida não chega), foi publicado em 2015 e, em 2017, foi reconhecida com o "National Youth Poet Laureate".
Sem deixar de lado a poesia, aquando do ingresso na universidade, optou por estudar na área de Sociologia em Harvard.
O convite para recitar um poema foi-lhe feito em dezembro, por parte da comissão inaugural de Biden, segundo conta o jornal 'New York Times'. Jill Biden teria visto uma leitura que a jovem tinha feito na Biblioteca do Congresso e sugeriu que lesse algo na inauguração. Gorman refere que não lhe foram dadas quaisquer diretrizes explícitas sobre o que escrever.
Investigou, inspirou-se nos discursos dos líderes americanos que tentaram unir durante os tempos de divisão e escreveu.
"Tinha esta coisa enorme, provavelmente uma das coisas mais importantes que alguma vez farei na minha carreira", declarou numa entrevista citada pelo NYT, e "foi como se, se tentasse escalar esta montanha de uma só vez, ia só desmaiar".
Para a tomada de posse, cujo tema era “América Unida”, escreveu o poema "The Hill We Climb" ("A Colina que Subimos"), que concluiu a 6 de janeiro, no dia da invasão ao Capitólio. Um momento crítico da democracia americana, que enfrenta também uma pandemia, além da divisão partidária, por isso o poema apela à sua unificação e a um novo capítulo na história do país, sem deixar de referir os acontecimentos desse dia.
"Há espaço para a dor e o horror e esperança e unidade, e espero também que haja um sopro de alegria no poema, porque penso que temos muito que celebrar nesta tomada de posse", explica Gorman.
"No meu poema, não vou, de forma alguma, encobrir o que vimos ao longo das últimas semanas e, atrevo-me a dizer, dos últimos anos. Mas o que eu realmente aspiro a fazer no poema é poder usar as minhas palavras para visualizar uma forma para que o nosso país possa unir-se e curar-se", acrescenta.
Na sua declamação, pedia aos americanos que “deixassem para trás um país melhor” do que aquele em que lhes foi deixado.
De Barack Obama a Oprah, foram vários aqueles que destacaram a sua intervenção nas redes sociais.
Em setembro, a Viking Books for Young Readers vai lançar o seu livro "The Hill We Climb", dirigido a adolescentes e adultos e que incluirá o poema inaugural, e o livro "Change Sings", com ilustrações de Loren Long. Após a tomada de posse, Penguin Young Readers disse que também publicaria uma edição especial de capa dura do poema, com uma primeira impressão de 150 mil exemplares.
Em 2017, confessou ao NYT a sua intenção de se candidatar à presidência em 2036 e, desta vez, no Capitólio terá dito a Biden que iria voltar.
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