As primeiras palavras de Lula foram de agradecimento e homenagem a Dilma Rousseff: "A Dilma foi a pessoa que me deu a tranquilidade de fazer quase tudo o que consegui fazer na Presidência da República", começou por dizer Lula, cujo arranque do discurso foi para agradecimentos aos seus companheiros de caminhada.
"Aqui foi a minha escola (...) aqui aprendi a fazer política", diz Lula, salientando a importância do sindicato dos metalúrgicos na democracia brasileira. "Confesso que vivi os melhores momentos políticos neste sindicato", diz o ex-presidente, que agora se vê na iminência de ser detido para cumprir uma pena de 12 anos e um mês de prisão por corrupção.
"Eles decretaram a minha prisão, e eu vou atender o mandato deles"
Depois do agradecimento, Lula parte para o ataque. "Estou sendo processado por um apartamento que não era meu. Eu pensei que o [Sergio] Moro ia resolver e ele mentiu e disse que era meu [o imóvel]. É por isso que sou um cidadão indignado, (...) eu não lhes perdoo por terem passado à sociedade a ideia de que sou um ladrão".
"Eu não estou acima da Justiça. Se não acreditasse na Justiça não tinha feito um partido político, tinha feito uma revolução (...), mas eu acredito numa Justiça justa."
Lula diz-se ainda disponível para ter um debate com Sergio Moro, figura central em toda a investigação do caso Lava Jato.
"Eu não sou contra a Lava Jato", diz Lula, apontando o dedo à pressão da opinião pública. "É que você não pode fazer julgamento subordinado à imprensa. Porque o juiz depois fala que não pode ir contra a opinião pública. Quem quiser julgar com base na opinião pública que largue a toga e vá ser candidato", defendeu.
Lula aponta ainda baterias à imprensa: "Eu fico imaginado a tesão da Veja e da Globo colocando uma fotografia minha preso. (...) eles decretaram a minha prisão, e eu vou atender o mandato deles, porque quero transferir a responsabilidade".
"A História vai provar que quem cometeu o crime foi o delegado que me acusou, o juiz que me julgou."
"A morte de um combatente não para a revolução", garante Lula.
"Se dependesse da minha vontade, eu não ia [entregar-se]. Mas eu vou (...) para eles saberem que vou provar a minha inocência".
"É com a cabeça erguida quero chegar ao pé do delegado e dizer 'estou à sua disposição'", diz Lula, acrescentando que "A História vai provar que quem cometeu o crime foi o delegado que me acusou, o juiz que me julgou."
"Tenho profundo orgulho de ter sido o único Presidente da República que não tem diploma universitário, mas que mais fez universidades", diz Lula, cujo discurso termina com um apelo à manutenção das causas que o seu partido tem defendido.
"Eu sairei dessa [situação] maior, mais forte, mais verdadeiro e inocente", garante Lula já no fim deste tão aguardado discurso.
A multidão despediu-se de Lula gritando "Eu sou Lula" e o ex-presidente desceu do palanque e distribuiu cumprimentos.
Lula chegou sentir-se mal por breves momentos, mas a organização, que pediu a presença de um médico, rapidamente acalmou a multidão dizendo que o ex-presidente já se estava a sentir melhor. O comício terminou com apelos dos apoiantes de Lula ao boicote da estação televisiva Globo.
O ex-Presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva tem permanecido no edifício da cidade brasileira de São Bernardo do Campo do Sindicato dos Metalúrgicos, violando o prazo de detenção decretado pelo juiz Sérgio Moro, que terminou ontem.
Hoje, o Supremo Tribunal Federal negou o mais recente pedido da defesa de Lula. Vários foram já tentados.
Ontem, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) do Brasil rejeitou pedido de 'habeas corpus', apresentado pelos advogados de defesa do ex-presidente para evitar a prisão imediata. O anúncio da decisão foi feito pelo juiz Felix Fischer, relator da operação Lava Jato no tribunal.
Na madrugada de quinta-feira, o Supremo Tribunal Federal (STF) já tinha também negado um ‘habeas corpus’ também apresentado pela defesa de Lula da Silva, que visava evitar a sua prisão antes de se esgotarem os recursos na Justiça.
Anteriormente, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) já havia também negado um ‘habeas corpus’ preventivo a Lula da Silva, condenado a 12 anos de prisão e um mês por corrupção passiva e branqueamento de capitais.
A prisão do ex-chefe de Estado está relacionada com um dos processos da Operação Lava Jato, o maior escândalo de corrupção do Brasil. Lula foi condenado por ter recebido um apartamento de luxo como suborno da construtora OAS em troca de favorecer contratos com a petrolífera estatal Petrobras.
A execução provisória da pena não deverá impedir juridicamente a candidatura presidencial de Lula da Silva, à frente nas sondagens para as eleições de outubro.
Luiz Inácio Lula da Silva, 72 anos, foi o 35.º Presidente do Brasil (2003-2011).
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