“A dexametasona não é um medicamento novo, o que significa que já passou por estudos anteriores relacionados com a sua segurança para os doentes e isso é muito bom”, disse.

O diretor do Centro para a Prevenção e Controlo de Doenças da União África (África CDC) falava hoje durante a conferência de imprensa semanal sobre a evolução da pandemia no continente africano quando questionado sobre o estudo, divulgado esta semana pelo Reino Unido, e que revelou efeitos positivos deste esteroide em doentes com covid-19.

O Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido (NHS, na sigla inglesa) anunciou que vai começar a utilizar dexametasona para combater a doença provocada pelo SARS-CoV-2, depois de um “grande estudo” que foi feito para encontrar um medicamento eficaz no combate contra a pandemia.

O virologista ressalvou que precisa ainda de “analisar em detalhe os dados do ensaio” feito no Reino Unido, nomeadamente no que respeita “à eficácia” do medicamento.

“Não é a bala mágica. O que sabemos é que reduziu a mortalidade em 35% entre os doentes que estavam ligados a ventiladores e que tem efeitos limitados em doentes apenas infetados com covid-19″, adiantou.

De acordo com o diretor do África CDC, o medicamento está disponível e tem sido usado no continente a um custo que ronda os dois dólares.

“Celebramos todas as boas notícias nesta luta. Quando vamos para a guerra, vamos com o que temos, não com o que esperamos. Por isso, congratulamos-mos com esta notícia”, apontou, considerando que pode ser uma “pequena vitória”.

Durante a conferência de imprensa, Jonh Nkegasong traçou o cenário da evolução da pandemia em África na última semana, adiantando que se registou um aumento de 28% de infeções, o que equivale a 57 mil novos casos ou oito mil novos casos diários.

“Na semana passada tínhamos uma média de 6 mil novos casos, na semana anterior 5 mil casos e esta semana 8 mil casos reportados diariamente. Ainda estamos na trajetória ascendente da curva pandémica no continente”, adiantou.

Com 7.197 mortes em 267.519 casos registados, a doença apresenta uma taxa de letalidade de 2,7% no continente.

São Tomé e Príncipe (2.º), Cabo Verde (4.º), Guiné Equatorial (6.º) e Guiné-Bissau (7.º) continuam entre os 10 países com mais casos de covid-19 por 100 mil habitantes.

John Nkengasong revelou que foram realizados no continente mais de 3,7 milhões de testes à covid-19 numa população de 1,3 mil milhões de pessoas, mas alertou que 80% destes testes foram feitos em apenas 10 países.

“O resto dos países continuam com dificuldades” na testagem ao vírus, disse.

O diretor do África CDC anunciou ainda, durante o encontro com os jornalistas, a realização, na próxima semana, de uma conferência virtual de dois dias sobre o papel de África no desenvolvimento e acesso a uma vacina contra a covid-19.

“A nossa liderança como continente tem de ser manifestada e exercida. Temos investigadores muito talentosos no continente, fizeram ensaios clínicos no Ébola, na malária e em outras áreas”, disse, adiantando que países como o Senegal, Egito e África do Sul já têm capacidade para fabricar vacinas.

Por isso, acrescentou, é preciso “estabelecer um roteiro do que o continente vai fazer para se preparar para a eventual introdução de uma vacina”.

Na conferência está prevista a participação do diretor-geral da Organização Mundial de Saúde, Tedros Adhanom Ghebreyesus.