De acordo com a orientação hoje divulgada pela Direção-Geral da Saúde (DGS) sobre os casos suspeitos de hepatite aguda de etiologia desconhecida em idade pediátrica, as manifestações inespecíficas como a dor abdominal, náuseas e vómitos, diarreia, com mais de uma semana de evolução e prostração importante podem coexistir com sintomas respiratórios e febre.
Já em contexto de cuidados hospitalares, perante uma criança com as manifestações clínicas acima descritas e que levantem suspeita de hepatite, deve ser iniciada a investigação laboratorial com, entre outras análises, hemograma completo, estudo da coagulação (INR), na área da bioquímica devem ser analisados indicadores como a glicemia, ureia, creatinina, ionograma, bilirrubina total e direta, assim como deve ser feita hemocultura, se apresentar febre.
Uma vez que a informação resultante da investigação em curso nos países que reportaram casos ainda é limitada, tendo os adenovírus entéricos sido indicados como possível agente envolvido, a DGS recomenda, na comunidade, o reforço de medidas de proteção como a higiene das mãos (supervisão em crianças mais pequenas) e a etiqueta respiratória, arejamento e/ou ventilação dos espaços interiores, limpeza e/ou desinfeção frequente de superfícies na presença de casos de gastroenterite aguda ou de infeção respiratória.
Nas unidades de saúde, são recomendadas medidas de precaução de contacto para casos suspeitos ou prováveis em caso de sintomatologia respiratória, “dando cumprimento às regras estabelecidas para controlo de infeção pelo Programa de Prevenção e Controlo de Infeções e de Resistência aos Antimicrobianos (PPCIRA)”, acrescenta a DGS.
Para promover a identificação de casos suspeitos e garantir a sua investigação, a DGS definiu como casos prováveis os que se refiram a crianças com 16 aos ou menos de idade com sintomas suscetíveis de serem hepatite aguda e não se confirme como hepatite A e E e com valores de aminotransferases séricas superiores a 500 UI/L (aspartato aminotransferase (AST) ou alanina aminotransferase (ALT)), desde 1 de outubro de 2021.
Será ainda identificado como casos prováveis os que tiverem ligação epidemiológica a pessoa de qualquer idade com hepatite aguda (não hepatite A-E) que seja contacto próximo de um caso considerado provável, desde 1 de outubro de 2021.
Na impossibilidade do laboratório hospitalar da instituição onde a criança está a receber cuidados de saúde realizar algumas destas análises, as amostras deverão ser enviadas ao Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA), acompanhadas da respetiva requisição e termo de responsabilidade, indica a DGS.
Na presença de um caso provável, “os profissionais de saúde do sistema de saúde devem reportar o caso às Autoridades de Saúde territorialmente competentes”, através do SINAVEmed (Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica), selecionando a doença “Hepatite de etiologia desconhecida em idade pediátrica”, insiste a DGS.
Após a notificação, caberá à autoridade de saúde territorialmente competente a realização do inquérito epidemiológico, refere a orientação, acrescentando que os casos prováveis ou com ligação epidemiológica serão reportados pela DGS ao Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC) e à Organização Mundial da Saúde (OMS), “contribuindo para a investigação internacional em curso”.
A DGS diz ainda que os profissionais de saúde “devem informar os pais sobre a raridade desta condição”, esclarecendo sobre a necessidade de a investigar, sobre as manifestações clínicas que deverão levar à procura de cuidados de saúde, bem como onde se devem dirigir.
A 31 de maio de 2022, o ECDC e a OMS Europa publicaram um boletim epidemiológico referindo 305 casos de hepatite aguda de etiologia desconhecida em crianças com 16 anos ou menos anos em 17 países da região europeia da OMS, sendo que em Portugal estavam contabilizados 15.
Segundo a DGS, os casos 15 suspeitos reportados em Portugal até 03 de junho 2022, em crianças com idades entre os quatro meses e 16 anos, ocorreram entre novembro de 2021 e 31 de maio de 2022. O quadro clínico destas crianças tem evoluído favoravelmente.
Os outros países da região europeia da OMS que comunicaram casos até final de maio foram Reino Unido (155), Itália (29), Espanha (34), Holanda (14), Bélgica (14), Suécia (9), Irlanda (8), Dinamarca (7), Grécia (5), Noruega (5), Polónia (3), Chipre (2), França (2), Áustria (2), Bulgária (1), República da Moldova (1), Sérvia (1).
O número total de casos notificados em todo o mundo era de 621, incluindo 14 mortes relatadas na Indonésia (6), Estados Unidos (5), Irlanda (1), México (1) e Palestina (1).
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