
O número π (pi) é uma constante matemática que representa a razão entre a circunferência de um círculo e seu diâmetro. Ou seja, para qualquer círculo, se dividirmos o comprimento da sua circunferência pelo seu diâmetro, obteremos sempre aproximadamente 3,14159..., um valor que nunca termina nem se repete.
"É isso que o torna especial: aparece independentemente do tamanho da circunferência", começa por explicar ao SAPO24 Rogério Martins, professor universitário doutorado em Matemática.
A história desde número vem de longe, embora não com o nome que hoje tem. Já na Mesopotâmia e no Antigo Egito esta constante era conhecida. "As primeiras pessoas que observaram esta propriedade perceberam que havia ali qualquer coisa extraordinária. Porque é que dá sempre o mesmo número? E é por isso que esta constante é especial".
"Costumo dizer que é muito provável que, se um dia descobrirmos extraterrestres, eles vão cá chegar, vão ter uma linguagem diferente, vão falar das coisas de uma forma diferente, vão ter um nome diferente para uma circunferência, vão ter um nome diferente para os números, mas, se tiverem matemática, devem conhecer o conceito do pi", afirma o matemático.
"Algum ser inteligente, em qualquer parte do universo, provavelmente vai perceber essa coincidência, esse efeito de que em qualquer circunferência o perímetro é dividido pelo diâmetro e dá sempre a mesma quantidade. Ou seja, o pi, provavelmente, é uma constante matemática que é independente da civilização", acrescenta.
Matematicamente falando, há ainda outro aspecto importante no π. "Durante muito tempo, já há muitos séculos, as primeiras estimativas para essa constante começaram por ser 3. Mas depois foi-se obtendo o pi com mais precisão e, atualmente, sabe-se que é um número irracional, ou seja, nunca o podemos escrever com uma dízima finita".
Assim, "se quisermos escrever todas as casas decimais do pi, nunca o vamos conseguir fazer, porque na prática nunca vamos conseguir chegar ao fim, pois vai sempre haver casas diferentes", números diferentes. "Mesmo um computador nunca vai chegar ao fim, porque terá sempre uma memória finita".
Com isto, chega-se ao motivo pelo qual quase toda a gente ouve falar do pi. "É o que o torna, de certa forma, um número misterioso, no sentido em que é talvez o número mais conhecido de todos, mas que, ao mesmo tempo, é um número desconhecido, porque ninguém vai conhecer nunca todas as suas casas decimais".
3/14 ou "dia do pi"
Hoje, 14 de março, é dia do π. "Surge simplesmente pela coincidência da data de calendário com as casas decimais do pi, 3,14, já que no calendário americano surge primeiro o mês — 3 — e depois o dia — 14", evidencia o professor universitário. "Aqui em Portugal acabou-se por seguir esse conceito e celebramos também esta sexta-feira".
Embora seja um número que "não tem muitas aplicações [no dia a dia], não deixa de ser uma coisa interessante". Afinal, "a matemática é uma coisa teórica que explica muitas coisas e que é interessante por si mesma", defende.
"As pessoas não utilizam o pi quando vão à mercearia para fazer aquelas contas mais elementares, mas aparece, por exemplo, em questões de geometria", evidencia.
Mas a verdade é que é um número que está em muitas coisas que temos à nosso disposição. "Se nós quisermos saber qual é o volume de uma lata de salsichas, uma lata cilíndrica, vamos precisar de utilizar o número pi. Portanto, acaba por aparecer no cálculo de volumes, de áreas e esse tipo de coisas".
Para o matemático, a magia do pi "tem a ver com o círculo, forma geométrica tão natural na nossa vida. Nós olhamos para o céu e vemos lá uma lua, que é circular, não é? O planeta onde nós vivemos é circular, as rodas dos carros são circulares. E, de certa forma, o pi está lá".
Além disso, o nome ajuda. "Acho que o pi teve sorte em ter sido chamado pi. O próprio nome dele é apelativo. Fica no ouvido, como aquelas estrelas de rock", remata.
O pi como inspiração fora da matemática
Nem só para a matemática vive o pi. O evento PiGo é exemplo disso e acontece também esta sexta-feira.
"Acontece em Albergaria-a-Velha, onde começou, mas neste momento até já transnacionalizou, já está na Polónia, em Espanha e também já passamos para o Chile. É um irmão mais novo do TEDx em Portugal, mas chama-se PiGo porque é no dia 3/14, às 3:14 p.m. (15h14). E três mais 14 oradores sobem ao palco e têm apenas três minutos e 14 segundos para contar uma história da sua vida", explica ao SAPO24 Hugo Carvalho, um dos responsáveis pelo evento.
"É um evento produzido pelos alunos do Agrupamento de Escolas de Albergaria-a-Velha que tem uma dimensão que já superou tudo aquilo em que pensávamos quando o criámos evento há 13 anos", lembra.
Mas porquê a influência do pi? Hugo, que nem é matemático, diz que foi quase uma brincadeira. "Começámos a pensar em vários números, devido ao tempo de duração de cada palestra. Andámos nos 18, nos cinco minutos... e depois alguém falou no pi, no 3,14. Nem sabíamos que havia um dia do π, mas quando descobrimos dissemos logo que seria essa a data".
"Todos os anos levamos uma história nova que tem uma lógica de continuidade. Os três oradores são sempre os mesmos e estão relacionados com a organização e depois os outros 14 são os heróis da nação, nas mais diferentes áreas de atividade económica", adianta.
Para Hugo, quem passa pelo PiGo são "aqueles que têm levado o nome de Portugal aos quatro cantos do mundo, desde as artes à ciência. Temos grandes nomes que estamos habituados muitas vezes a vê-los na televisão, na comunicação social e no digital. E neste dia sobem a palco em Albergaria-a-Velha".
No fundo, o pi, número que está em tanta coisa, é uma desculpa para "contar histórias de vida que, de certa forma, inspirem quem ouve a poder mudar a sua própria vida". Este ano, o evento tem como tema "Inspiração".
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