O ministro das Finanças holandês e presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, afirmou em entrevista ao jornal alemão Frankfurter Allgemeine que os europeus do Sul gastam o dinheiro “em copos e mulheres” e  que isso tem como consequência “depois pedirem que os ajudem”.

“Durante a crise do euro, os países do norte mostraram solidariedade com os países afetados pela crise. Como social-democrata, atribuo uma importância extraordinária à solidariedade. Mas também deve haver obrigações: não se pode gastar todo o dinheiro em copos e mulheres e depois pedir ajuda”, Jeroen Dijsselbloem

Dijsselbloem fez estas afirmações ontem e hoje foi confrontado com as mesmas no Parlamento Europeu.  “Não há desculpa ou razão para recorrer a tal linguagem, especialmente de alguém que é suposto ser um progressista. Questiono verdadeiramente se uma pessoa com estas crenças ainda pode ser considerada adequada para o cargo de presidente do Eurogrupo”, comentou hoje o líder da bancada dos Socialistas Europeus no Parlamento Europeu, Gianni Pittella.

O presidente do Eurogrupo quis clarificar as suas declarações, mas não pedir desculpas pelas mesmas. "Sou social-democrata e valorizo muito o princípio da solidariedade numa sociedade no contexto da Europa. Mas deve sempre estar associado a compromissos e esforços", sublinhou.

Na entrevista ao Frankfurter Allgemeine, o presidente do Eurogrupo apontou o dedo aos países do sul, recordando que durante a crise do euro os países do Norte se tinham mostrado solidários com os países mais afectados pela crise. "Quem pede também tem obrigações. Não se pode gastar o seu dinheiro em copos e mulheres e depois pedir que o ajudem”, afirmou.

Esta nova polémica a envolver Dijsselbloem ocorre numa altura em que a sua posição como presidente do Eurogrupo está particularmente fragilizada, na sequência dos resultados eleitorais da passada semana na Holanda, que ditaram uma derrota histórica do seu partido, o PvdA, que era parceiro de coligação do VVD (centro-direita) do primeiro-ministro Mark Rutte, mas que agora passou de 38 para nove deputados.

Por ocasião do Eurogrupo de segunda-feira em Bruxelas, Dijsselbloem admitiu que, quando houver um novo ministro das Finanças holandês, caberá aos países da zona euro tomar uma decisão sobre o seu cargo, mas sublinhou que tal ainda poderá “levar alguns meses”.

“Como sabem, o meu mandato vai até janeiro [de 2018] e a formação de um novo governo de coligação na Holanda pode levar alguns meses. Ainda é muito cedo para dizer se vai haver um hiato entre a chegada do novo ministro e o final do meu mandato”, salientou Jeroen Dijsselbloem, à entrada para uma reunião do Eurogrupo.

Já este mês, por ocasião da reeleição do presidente do Conselho Europeu durante uma cimeira em Bruxelas, o primeiro-ministro, António Costa, mostrou-se favorável a uma mudança “rápida” na liderança do fórum de ministros das Finanças da zona euro, para que seja possível ter também no Eurogrupo “um novo presidente, capaz de dar um sinal positivo para a construção dos consensos que são essenciais para uma zona euro mais estável e que seja um fator de união entre todos os países da zona euro”.