Em declarações aos jornalistas, D. Américo Aguiar lembrou que "cada bispo e cada diocese" tomará as suas decisões sobre o que fazer com a lista que recebeu. "Acredito que todas as dioceses, bispos e comissões diocesanas estão a trabalhar", evidenciou.

Nesse sentido, o bispo auxiliar de Lisboa apontou que "eventualmente amanhã" a Diocese se manifesta sobre os próximos passos a tomar.

"Hoje vamos ter a reunião da Comissão Diocesana (…) para propor ao senhor Patriarca as medidas que acha ela que devem ser aplicadas", afirmou.

No que diz respeito a Lisboa, a lista é hoje entregue à Comissão Diocesana e nos próximos dias este organismo vai recomendar ao cardeal patriarca o que deve fazer em relação a cada uma das pessoas que constam no documento, precisou o bispo.

“Isso significa que se a comissão disser que as pessoas A, B e C devem ser afastadas do exercício público do ministério, elas serão”, acrescentou.

Ao SAPO24, o Patriarcado de Lisboa já tinha referido ontem que está a reunir dados para responder às questões sobre a lista que foi entregue a 3 de março.

Questionado pelos jornalistas sobre a suspensão preventiva de sacerdotes, o prelado explicou que os documentos oficiais do Vaticano dizem que não deve ser usada a expressão “suspensão”, porque implica uma pena e um processo, mas que na prática, para entendimento do cidadão comum, é o que acontece.

O bispo auxiliar de Lisboa, que falava à comunicação social depois de um almoço do International Club of Portugal, em que explicou o âmbito da Jornada Mundial da Juventude, defendeu que não podem fazer-se juízos, nem decisões sem respeitar os preceitos do Estado de Direito.

Sobre um alegado perdão aos abusadores, defendido por alguns prelados, D. Américo Aguiar respondeu: “O tema hoje não é a reflexão sobre o perdão ou a misericórdia a um pecador ou a um criminoso, hoje o tempo é o de refletirmos naquilo que é essencial (…) terminou o tempo de dar voz ao silêncio, agora é o momento da justiça, da verdade e da ação”.

Sublinhando que o processo tem duas frentes, a civil e a canónica, D. Américo Aguiar esclareceu que no âmbito da Igreja o que é recomendado é que cada bispo, com a sua comissão diocesana, avalie e tome decisões. “E é isso que tem estado a acontecer”, sustentou.

Em relação ao pagamento de indemnizações a vítimas, o bispo auxiliar de Lisboa defendeu que se uma pessoa for condenada por abuso sexual de menores, e condenada a pagar uma indemnização, mas que não tenha recursos para o fazer, a igreja deve suprir essa premissa.

“Numa situação destas, em que alguém foi condenada e ficou claro que nesse processo houve encobrimento por parte da igreja, colaboração, assobiar para o ar, defendo que nesse caso a igreja deve assumir a indemnização a essa vítima”, declarou.

Associações de apoio especializado à vítima de violência sexual:

Quebrar o Silêncio (apoio para homens e rapazes vítimas de abusos sexuais)
910 846 589
apoio@quebrarosilencio.pt

Associação de Mulheres Contra a Violência - AMCV
213 802 165
ca@amcv.org.pt

Emancipação, Igualdade e Recuperação - EIR UMAR
914 736 078
eir.centro@gmail.com

D. Américo Aguiar escusou-se a comentar declarações do Cardeal Patriarca ou outros bispos sobre casos alegadamente prescritos, mas disse que a dor “não prescreve”.

“No canónico, as prescrições não devem ser o nosso paredão de defesa do que quer que seja”, expressou, acrescentando “tudo o que pudermos fazer, devemos fazer.

D. Américo Aguiar referiu ainda que a Comissão Diocesana de Lisboa vai ser reestruturada e que vai deixar de ser o moderador.

Comissão do Patriarcado de Lisboa e APAV colaboram na prevenção de casos de abuso

A Comissão de Proteção de Menores e Adultos Vulneráveis do Patriarcado de Lisboa estabeleceu um protocolo com a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV), para a prevenção de casos de abusos sexuais na Igreja, foi hoje anunciado.

José Souto Moura, que integra aquela comissão, além de presidir à Equipa de Coordenação das Comissões Diocesanas de Proteção de Menores disse hoje, em declarações à agência Ecclesia e à Rádio Renascença, que o protocolo “não se limita ao acolhimento, acompanhamento e eventual tratamento para quem precisar, mas estão pensadas sessões de formação para a prevenção”.

“O protocolo tem uma área de atendimento, por parte da APAV, ligada à Grande Lisboa, com postos de apoio em Lisboa, Oeiras, Cascais, Odivelas e Cadaval”, acrescentou.

Segundo o ex-procurador-geral da República, o trabalho preventivo vai envolver a APAV, as vigararias e instituições particulares de solidariedade social.

Souto Moura adiantou que a Equipa de Coordenação Nacional está a preparar a criação de uma bolsa de psicólogos e psiquiatras que possam “acompanhar e acolher” as vítimas.