A posição foi assumida pelo diretor para África, Médio Oriente e Organizações Regionais do Ministério das Relações Exteriores angolano, embaixador Joaquim do Espírito Santo, após as críticas de Ana Gomes, que acusou o Governo de inviabilizar uma missão de observadores da União Europeia para as eleições gerais de 23 de agosto, ao "fingir que convidava" o bloco europeu, mas recusando "condições elementares" aos integrantes da equipa.
Questionado pelos jornalistas, num encontro inicialmente previsto com o ministro das Relações Exteriores, Georges Chikoti, o diplomata criticou as "especulações de alguém que não é angolano" sobre o processo nacional.
"Nós somos um Estado. E o Estado não pode preocupar-se com as especulações, com o que dizem pessoas que não têm nada a ver com o nosso processo. Este processo diz respeito aos angolanos, portanto são os angolanos que devem nos preocupar", disse embaixador Joaquim do Espírito Santo.
"A eurodeputada Ana Gomes não é angolana, é portuguesa, é membro de uma instituição que é parceira do Estado angolano, respeitamo-la como tal e esperamos que ela também respeite este grande país, respeite este grande povo", exortou o diplomata, após confirmar que a missão europeia às eleições gerais de agosto será constituída apenas por quatro peritos e não por uma equipa alargada de observadores eleitorais.
O embaixador admitiu que a pretensão da União Europeia era "estar mais tempo" em Angola, no quadro da observação do processo eleitoral, ou seja, antes ainda do arranque da campanha eleitoral, a 23 de julho último, algo que a lei eleitoral angolana, disse, não permite.
O convite do Presidente angolano cessante, José Eduardo dos Santos, para a União Europeia enviar uma missão de observação eleitoral chegou a Bruxelas no dia 27 de junho, pelo que não houve tempo para preparar a deslocação, explicou à Lusa, na sexta-feira, uma fonte comunitária.
Ana Gomes afirmou à Lusa, no domingo, que por detrás do pedido tardio está um motivo bem claro.
O pedido "foi feito muito tarde, mas, sobretudo, Angola não deu as condições de acesso e imparcialidade da missão que eram indispensáveis. Essa foi a principal razão. Era um convite enganador, não um verdadeiro convite. Pelos vistos Angola não quer corresponder aos padrões mínimos", disse a eurodeputada, que recentemente integrou missões semelhantes da UE na Nigéria e em Timor-Leste.
"Angola não tinha nenhuma vontade de convidar a União Europeia. Fez [o convite] por fazer, porque há muita pressão, quer dos partidos da oposição quer da sociedade civil. E o Governo angolano quis fingir que convidava, mas efetivamente não convidou. Porque não só o fez tarde, como não deu as condições elementares para a UE poder fazer, de facto, uma missão", criticou.
Para Ana Gomes, a manobra do Governo angolano "não acontece por acaso".
"É porque efetivamente - e como se vê pelas declarações de alguns responsáveis do Governo angolano, que têm uma atitude hostil - sabem que uma missão de observação da União Europeia poderia ver muita coisa que, com toda a certeza, infelizmente, se vai passar e que não abona em favor da credibilidade do ato eleitoral", disse.
Comentários