Numa nota enviada à Lusa, a direção da Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários da Ajuda (AHBVA) explica que, “desde o final do mês de setembro”, um “benfeitor” da associação comprometeu-se “a pagar os vencimentos dos funcionários” em 04 de outubro, mas passados dois dias informou “que não seria possível”.

Outra pessoa, acrescenta a direção, “comprometeu-se em solucionar os vencimentos” em 08 de outubro, “mas mais uma vez nada foi pago”.

A situação, segundo a direção, decorre “sem qualquer razão aparente” desde 25 de setembro, quando “os quatro funcionários se recusaram a trabalhar, deixando de prestar socorro e receitas, criando um grave problema de tesouraria”.

A direção tomou conhecimento da situação pelo comandante em substituição, tendo tentado “solucionar o problema pacificamente”.

Na origem do problema está, é acrescentado na declaração, o pedido de demissão do cargo, em 18 de setembro, do presidente da direção, “por discordar dos restantes membros”, tendo os outros elementos diretivos ficado sem acesso aos “movimentos bancários” da associação.

A atual direção refere ter tentado, em 08 de outubro, adiantar aos funcionários um terço do ordenado em dívida, mas estes recusaram.

“Estamos comprometidos em trabalhar de forma transparente para resolver essas pendências financeiras e garantir a continuidade dos nossos serviços à comunidade”, assegura a direção.

A nota surge após fonte da direção dos bombeiros ter dito à Lusa, ao início da tarde, que o tesoureiro da corporação tinha sido agredido por dois sócios que entraram no escritório onde se encontrava.

“O senhor tesoureiro pediu várias vezes para saírem e, como os dois sócios não acataram o pedido, este terá tentado empurrá-los. Foi quando foi agredido no maxilar”, explicou a fonte, embora acrescentando que o agredido “não necessitou de tratamento hospitalar”.

Durante a manhã de hoje, a autoridade foi chamada ao quartel da Ajuda devido a uma situação de vários bombeiros que estavam a reivindicar salários em atraso.

A CNN Portugal noticiou hoje que quatro bombeiros voluntários estavam “barricados no quartel em protesto para exigir o pagamento de salários em atraso”.

Segundo a estação de televisão, cinco dos nove bombeiros do quartel estão sem receber salário, pelo menos, desde setembro e por isso “resolveram barricar-se no edifício até que lhes seja reposto o ordenado”, sendo que um dos cinco elementos se encontra de baixa e, como tal, “não está no protesto”.

No final de setembro, a vice-presidente da AHBVA admitiu que a corporação vivia “uma situação financeira dramática” e corria o risco de não receber o ordenado desse mês, salientando ter já feito vários pedidos de ajuda.

As dificuldades financeiras da AHBVA já são uma realidade desde, pelo menos, o início do ano, mas “agudizaram-se nos últimos dias” segundo relatou na altura à Lusa, Cristina Santos.

A responsável explicou que a atual direção, que tomou posse em maio, “herdou muitas dívidas” da direção anterior, mas que contou com a ajuda financeira de “um senhor benemérito do Algarve” que, entretanto, “desistiu de ajudar”, por divergências com o comandante em regime de substituição.

Cristina Santos referiu ainda que, face a esta situação “dramática”, a direção dos bombeiros da Ajuda tinha contactado várias entidades, entre elas a Junta de Freguesia e a Câmara Municipal de Lisboa, aguardando uma resposta.

Contactada na altura pela Lusa, fonte da Câmara de Lisboa, presidida pelo social-democrata Carlos Moedas, disse estar a “acompanhar o caso” e “em contacto permanente com o comando e com a direção da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários da Ajuda”, mas ressalvou que a autarquia está “legalmente impedida de apoiar financeiramente custos de gestão corrente de entidades terceiras”.

“Os bombeiros voluntários da cidade de Lisboa, nos quais se incluem os bombeiros voluntários da Ajuda, são instituições independentes, cuja gestão é da sua inteira responsabilidade e em função do mandato conferido pelos respetivos associados”, explicou a Câmara.