"Temos um mar imenso que ainda é muito pouco conhecido. Esse é realmente o grande desafio, poder contribuir para aquilo que é o conhecimento sobre os nossos recursos vivos. Obviamente que isso não podemos fazer sozinhos", salientou.
Vitor Vasconcelos, que falava à Lusa a propósito do 20.º aniversário do CIIMAR, que se celebra no dia 29, lembrou, contudo, que para isso é necessário "trabalhar em rede a nível nacional".
"Há uns anos dizia-se 'dividir para reinar', mas acho que, atualmente, dividir não leva a lado nenhum. Temos é que nos unir para reinar e criar massa crítica. Há muitas complementaridades que devem ser aproveitadas para, dessa forma, conseguirmos ter a nível nacional uma capacidade cada vez maior de conhecer o mar", defendeu.
Vitor Vasconcelos entrou para o CIIMAR quando este ainda estava sediado num "edifício prefabricado de madeira" na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP). À época, recorda-se que teve de arranjar "um anexo para pôr o laboratório", pois já "pouco espaço havia".
Há quatro anos instalado no Terminal de Cruzeiros do Porto de Leixões, em Matosinhos, e depois de ter estado sediado na rua dos Bragas (onde atualmente é a Faculdade de Direito da UP), o CIIMAR está hoje "a ter outra vez dores de crescimento e a precisar de mais espaço".
O atual espaço, apesar de ser "icónico" e permitir uma "ligação ao ecossistema do mar", nomeadamente conserveiras, pescas e restaurantes, gerou uma "grande visibilidade nacional e internacional" e atraiu quer investigadores estrangeiros, quer estudantes de mestrado e doutoramento.
Se em 2000, aquando da criação do CIIMAR, resultado de uma fusão entre o Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) e a FCUP, eram cerca de 30, os professores doutorados que lá trabalhavam agora são 240.
"Como se costuma dizer, condiz a cara com a careta. Acho que a excelência científica que nós temos vindo a demonstrar ao longo destes anos finalmente tem uma imagem que nos representa: a modernidade, inovação e internacionalidade", admitiu o responsável.
Mas, nem sempre foi assim. Ao longo destes 20 anos, vários foram os "obstáculos" que se colocaram, entre eles a falta de recursos humanos administrativos, o financiamento fixo anual do Ministério da Ciência que ia permitindo "manter a máquina a funcionar" e o "período de crise".
Quando entrou para a direção do centro, há sete anos, Vitor Vasconcelos "apanhou o embate da crise", que recorda agora como "benéfica", uma vez que "obrigou" todos aqueles que trabalham no CIIMAR a "repensar a forma de estar e trabalhar".
"Tivemos um corte profundo de orçamento (…). Na altura foi muito doloroso, mas foi benéfico porque nos permitiu pensar em novas soluções", lembrou o responsável.
Essas novas soluções e a "mudança de mentalidades" permitiram que o CIIMAR estabelecesse mais parcerias com empresas e participasse em novos projetos, desenvolvidos maioritariamente ao abrigo de programas da Comissão Europeia.
Para Vitor Vasconcelos, a publicação de artigos científicos em revistas internacionais, a proteção da investigação através de patentes e a criação de novas empresas (‘spin-off’), continuam a ser as "grandes prioridades" do centro que se rege, essencialmente, "por três vias": a exploração dos oceanos e seus ecossistemas, a aquacultura e a biotecnologia marinha.
"Estas são as três linhas que queremos continuar a desenvolver e nas quais vemos futuro", salientou o responsável, adiantando que, no que concerne à exploração dos oceanos e dos ecossistemas, o CIIMAR vai continuar a trabalhar por forma a "mitigar e tentar encontrar medidas para diminuir" o impacto das alterações globais.
Relativamente ao setor da aquacultura, o responsável defendeu existir ainda "muito a fazer" nos próximos anos, especialmente no que diz respeito à "mudança de mentalidades".
"Atualmente, mais de 50% daquilo que comemos vem da aquacultura e nos próximos anos vai aumentar, até porque a população está a aumentar. Temos de encontrar novas formas de fazer a aquacultura mais sustentável, especialmente porque é ainda uma atividade vista com muito preconceito", realçou, defendendo a necessidade de dar à aquacultura o "estatuto" que tem a agricultura.
Quanto à biotecnologia marinha, o responsável considerou que, apesar desta ser a "via mais recente" a que o CIIMAR se dedicou, o potencial "económico é o mais interessante", já que "pode vir a dar resposta a muitos dos problemas atuais" na área da cosmética, nutrição, saúde e alimentação.
Para celebrar o 20.º aniversário, o CIIMAR vai organizar a conferência “SOS Conference” para abordar as estratégias de sustentabilidade dos oceanos.
A iniciativa, que visa "chamar à atenção para a problemática dos oceanos", especialmente do público em geral, vai contar com a presença de Tanya Houppermans, fotógrafa subaquática e conservacionista, Nancy Knowlton, cátedra das Ciências Marinhas do Museu Nacional de História Natural do Smithsonian (Estados Unidos da América), e Peter Heffernan, membro da Comissão Europeia para os oceanos, mares e águas costeiras.
A sessão deverá também contar com a presença dos ministros da Ciência, Ensino Superior e Tecnologia e do Ambiente e da Ação Climática.
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