João Vaz, de 39 anos, vive com a família na Póvoa de Santo Adrião, no concelho de Loures, e viu na noite de segunda-feira o seu carro ser consumido pelas chamas no estacionamento à frente do prédio onde habita.
“Estava a preparar-me para me deitar quando os vizinhos começaram a tocar-me à campainha. Vi no vídeo porteiro uma chama e pensava que era no jardim em frente. Comecei a correr para ir tirar o carro, mas quando cheguei cá abaixo vi que era o meu carro que estava a arder”, começou por dizer aos jornalistas.
Com o automóvel completamente ardido nas suas costas, João Vaz explicou que, com a ajuda dos vizinhos, tentaram apagar o incêndio, com mangueiras que retiraram das garagens dos prédios, mas “o fogo ficava cada vez mais forte e só mesmo os bombeiros conseguiram apagar”.
“A explicação que encontro é que é uma situação organizada, há de haver um mentor nisto tudo, não acredito que as pessoas façam isto sozinhas, acho que há uma organização. Assim como organizaram uma manifestação no Marquês [Pombal), houve uma intenção de criar um mediatismo à volta desta situação”, afirmou João Vaz.
Questionado pelos jornalistas se encontrava ligação entre os atos de vandalismo da noite passada e os incidentes ocorridos no Bairro da Jamaica, em Setúbal, no passado domingo, João Vaz foi perentório ao afirmar que sim:
“Com certeza absoluta. Foi aqui, foi na praceta a 500 metros. Lá em cima no Bairro do Codivel, dois. Foi tudo organizado. Na esquadra também”, afirmou.
Até agora, João Vaz avança nunca terem existido problemas no bairro localizado na Povoa de Santo Adrião, no concelho de Odivelas, mas que agora sente insegurança, ele e os vizinhos, segundo explicou.
“Sentimos insegurança todos. Não sabemos se acaba agora ou se as provocações vão continuar”, adiantou.
Depois do incêndio no carro, João Vaz lembrou-se de um grupo de jovens encapuzados pelo qual passou, “que andavam por ali, mas pareciam que não conheciam a zona, que andavam perdidos”.
“Passei por eles, mas não suspeitei de nada porque nunca imaginei [o que iria acontecer]. Tive uns ‘flashes’ depois. Suspeitas há sempre, mas sem provas não posso acusar ninguém”, afirmou.
Uma pessoa foi detida durante a noite na sequência dos incidentes registados em Odivelas, na Póvoa de Santo Adrião e em Santo António dos Cavaleiros, no distrito de Lisboa, onde diversas viaturas foram incendiadas e 11 caixotes do lixo destruídos com recurso a ‘cocktails molotov’, segundo a PSP.
Em comunicado, a PSP explica que quatro viaturas foram incendiadas cerca das 21:40 de segunda-feira na Póvoa de Santo Adrião (duas) e em Odivelas (duas), e que, na sequência destes incidentes, foram incendiados e destruídos 11 caixotes do lixo e danificadas outras cinco viaturas na zona circundante ao Bairro da Cidade Nova.
A PSP acrescenta que já durante a madrugada, pelas 03:15, no bairro da Bela Vista, em Setúbal, foram lançados três cocktails molotov contra uma esquadra.
A PSP “continua as investigações destas duas ocorrências, nada indiciando, até ao momento, que estejam associados à manifestação ocorrida ontem [segunda-feira] no Terreiro do Paço”, acrescenta.
Na segunda-feira, quatro pessoas foram detidas na sequência do apedrejamento a elementos da PSP por parte de moradores do bairro social da Jamaica, no Seixal, distrito de Setúbal, que protestaram em Lisboa, frente ao Ministério da Administração Interna, para dizer "basta" à violência policial e “abaixo o racismo”.
O protesto teve como motivo a intervenção policial realizada no domingo de manhã no Bairro da Jamaica, quando a PSP foi alertada para “uma desordem entre duas mulheres”, tendo sido deslocada para o local uma equipa de intervenção rápida da PSP de Setúbal. Na ocasião, um grupo de homens reagiu à intervenção dos agentes da polícia quando estes chegaram ao local, atirando pedras.
Na sequência destes incidentes, ficaram feridos, sem gravidade, cinco civis e um agente da PSP, que foram assistidos no Hospital Garcia de Orta, em Almada.
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