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O que aconteceu no leste da Polónia?
O primeiro-ministro polaco, Donald Tusk, disse ao parlamento que o espaço aéreo polaco foi violado 19 vezes. Caças F-16 polacos e F-35 holandeses, entre outras aeronaves, abateram pelo menos quatro drones. Fragmentos foram encontrados por toda a região, incluindo um que atingiu uma habitação, sem causar feridos. “Não há dúvidas quanto às intenções agressivas da Rússia”, afirmou Tusk. A Polónia invocou o Artigo 4.º da NATO para reunir os aliados e discutir a situação.
Poderia ter sido um acidente?
O ministro dos Negócios Estrangeiros polaco, Radosław Sikorski, afirmou: “A avaliação das forças aéreas polacas e da NATO é que não se desviaram do curso, mas foram deliberadamente direcionados”. Também o ministro da Defesa alemão, Boris Pistorius, reforçou a ideia: “Definitivamente não há razão para suspeitar que se tratou de um erro de trajetória ou algo do género”.
Fabian Hoffmann, especialista em mísseis e estratégia nuclear da Universidade de Oslo, disse ao jornal Politico: “Observando as trajetórias de voo, estes drones seguiram um percurso controlado, portanto parece que a Rússia agiu de forma deliberada”.
Já o secretário de Defesa britânico, John Healey, alertou: “Existem relatos contraditórios e ainda não há uma avaliação firme sobre o que esteve por detrás dos ataques, ou a intenção. Qualquer que tenha sido, foram perigosos, foram imprudentes e violaram o espaço aéreo soberano da Polónia e da NATO”.
O que diz o Kremlin?
Moscovo acusou inicialmente a Ucrânia. Andrei Ordash, encarregado de negócios da Rússia em Varsóvia, declarou: “Sabemos uma coisa: estes drones voaram do lado da Ucrânia … Não foram apresentadas provas que sustentem a alegação de que estes drones eram de origem russa”.
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse à agência estatal TASS: “Preferimos não comentar de qualquer forma. Está fora da nossa competência. Mas líderes da UE e da NATO acusam a Rússia de várias provocações diariamente, na maioria das vezes sem apresentar argumentos”.
O Ministério da Defesa russo afirmou que os drones atingiram alvos militares na Ucrânia ocidental e que não tinham como alvo território polaco, acrescentando que o alcance máximo dos drones é de cerca de 700 km.
É tudo parte de um plano russo?
Timothy Ash, economista especializado na Europa Central e contactado também pelo Politico, comentou: “Esta é uma mensagem de Moscovo de que não estão interessados numa paz assegurada por uma força ocidental de dissuasão, e provavelmente não estão interessados na paz de todo”.
Já o general reformado Ben Hodges, antigo comandante do Exército dos EUA na Europa, considerou a incursão deliberada, sublinhando a propensão de Putin ao risco, tendo em conta os cerca de 8.000 soldados norte-americanos na Polónia.
Hoffmann diz ainda que: “A disposição de Moscovo para assumir tais riscos reflete fraqueza e oportunismo. A Rússia não respeita a Europa e a sua situação económica não é particularmente boa. É precisamente por isso que o Kremlin escolhe intensificar agora — vê uma janela de oportunidade”.
O que isto revela sobre a prontidão da defesa aérea da Polónia e da NATO?
Apesar de terem abatido alguns drones, esta ação não representa um sucesso absoluto. Hodges sublinha: “Isto não é algo para o qual deva usar F-16 ou F-35”.
Phillips O’Brien, professor de estudos estratégicos na Universidade de St. Andrews, acrescentou: “O ataque ‘de treino’ de ontem pelos russos mostra como os Estados da aliança não se prepararam adequadamente para a guerra futura — nem para a guerra que enfrentam agora”.
A Ucrânia, por seu lado, intercetou 386 de 415 drones russos e 27 de 43 mísseis lançados na noite de terça-feira.
Como pode reagir a NATO?
Oana Lungescu, antiga porta-voz da NATO e investigadora no Royal United Services Institute, disse ao Politico que: “O secretário-geral da NATO, Mark Rutte, afirmou que a aliança precisa de um aumento cinco vezes superior nas capacidades de defesa aérea e de mísseis, o que é uma prioridade urgente. Também é importante que todos os países da NATO clarifiquem a legislação nacional sobre abater aeronaves que entram no seu espaço aéreo”.
Hodges defendeu um exercício multinacional de defesa aérea para coordenar melhor as respostas e sugeriu alterar as regras sobre o Báltico e o Mar Negro, permitindo que aeronaves da NATO abatam drones e mísseis russos.
Por fim, propôs também a criação de uma zona de exclusão aérea sobre o oeste da Ucrânia para impedir que drones e mísseis russos se aproximem do espaço aéreo aliado: “Não há aviões russos a sobrevoar a Ucrânia, portanto isto não seria uma escalada”.
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