A corrida de Ron DeSantis começou um pouco atribulada, depois da transmissão do lançamento da sua campanha sofrer falhas técnicas. Com a ajuda do CEO do Twitter, Elon Musk, atrasou o lançamento previsto para a tarde desta quarta-feira, no seu país. Entretanto, surgiu um vídeo onde que era anunciado ao mundo aquele que se suspeita poder vir a substituir Joe Biden ao comando da América e a acabar com o domínio Trump do lado republicano. A premissa é simples: quer concorrer à Casa Branca “para liderar o retorno” dos Estados Unidos (“Great American Comeback”, segundo o slogan da campanha). 

Mas quem é este discípulo republicano que quer ser o comandante dos destinos americanos? De seu nome completo Ronald Dion DeSantis, nasceu em Jacksonville, Flórida, em 1978. É o atual governador do estado americano da Flórida, posição que ocupa desde 2019. 

Antes disso, sabe-se que se formou em Yale em 2001, com uma licenciatura em História, e onde, sempre com um espírito de liderança, foi capitão da equipa de basebol, segundo conta o jornal The Guardian. Depois de se formar, foi por alguns anos professor em Darlington, um internato em Rome, no estado da Geórgia.  

Após Darlington, frequentou a Harvard Law School, onde acabaria por concluir a sua formação em 2005. Ainda enquanto estudante em Harvard, juntou-se à Marinha americana como oficial do corpo de juízes (JAGs), em 2006, e foi destacado para o centro de detenção na Baía de Guantánamo.  

Em 2007, DeSantis foi destacado para o Iraque e atuou como consultor jurídico da Seal Team One, uma força especial da marinha norte-americana. Mais tarde, seria premiado com a Bronze Star Medal e com a Iraq Campaign Medal. 

Seria só em 2012 que o mundo ouviria falar de uma candidatura de DeSantis ao Congresso, onde acabaria por cumprir três mandatos até 2018. Entre as políticas que tentou levar adiante durante o seu tempo no Congresso, destaca-se em 2015 a tentativa de ajudar a formar o grupo ultraconservador House Freedom Caucus, com o objetivo de mudar a liderança e as políticas republicanas para se posicionarem mais à direita, e ainda as diversas tentativas de promover cortes orçamentais de cariz social e na saúde. É conhecida, em 2013, a votação de uma lei, entretanto fracassada, para aumentar a idade da reforma para os 70 anos. 

Ainda durante esta incursão inicial na política, destaca-se a oposição evidente ao Governo de Obama. Na altura, e de acordo com a BBC, condenava o que considerou ser a tendência do governo de intervir em "praticamente qualquer questão, desde a cintura das crianças até a temperatura da Terra". 

Sobre este tempo, recordou o ano passado num comício conservador no Texas: "A minha missão era principalmente parar Barack Obama", referindo-se ao seu tempo no Congresso com "Boas lutas. Lutas importantes". 

Em 2018, foi apoiado por Trump para concorrer a governador do estado onde nasceu, a Flórida, onde seria eleito em 2019. Aqui, ficou famoso pela oposição evidente às políticas Covid-19, tendo em julho de 2020 dado a ordem para reabrir as escolas quando os casos disparavam a nível nacional. 

Desde essa altura, expandiu também o direito às armas neste estado americano, bem como a pena de morte. Tornou-se também um forte repressor da imigração ilegal, e assinou um projeto de lei que proíbe a maioria dos abortos após seis semanas de gestação, prometendo "defender a dignidade da vida humana e transformar a Flórida num estado pró-família". 

Em janeiro deste ano, proibiu ainda os estudos afro-americanos nas escolas secundárias do estado, afirmando que essa disciplina “não tem valor educativo”. 

Além disso, é famosa a sua disputa legal com uma das maiores empresas e empregadores dos Estados Unidos, a Disney, que prontamente criticou o projeto de lei informalmente designado por "Don't Say Gay" (“Não digas Gay”, em tradução livre), aprovado na Flórida com o objetivo de que proibir discussões sobre orientação sexual e identidade de género nos estabelecimentos de ensino escolar em qualquer ano de escolaridade. 

Como consequência deste conflito, a Flórida votou para reestruturar o distrito especial que foi criado há mais de 50 anos para supervisionar o desenvolvimento dos terrenos em redor do Disney World, que inclui quatro parques temáticos, dezenas de hotéis e locais de entretenimento. Estas mudanças deram a DeSantis o poder de nomear membros para o conselho administrativo do distrito, removendo essa autoridade dos proprietários destes terrenos, sendo a Disney a que detém a maior área. 

Segundo a BBC, o poder demonstrado neste tipo de lutas políticas elevou o seu estatuto, junto do eleitorado, ao de um potencial candidato republicano à presidência, afastando-se cada vez mais de Donald Trump e subindo a sua credibilidade individualmente. 

Apesar de ainda ter de vencer as primárias republicanas, afirmou ao jornalista britânico Piers Morgan, que o entrevistou em março: “'Se eu concorrer, estarei a concorrer contra Biden”, afastando a competição do ex-presidente republicano.

No que diz respeito à sua vida pessoal, é casado com Casey DeSantis, uma ex-apresentadora de televisão e mãe dos seus três filhos que, é descrita como o "maior trunfo" do candidato à presidência. 

Casey foi particularmente importante quando acompanhou o marido durante os esforços de recuperação após o furacão Ian, em 2019. Entretanto, soube-se que ajudou a expulsar membros da delegação do partido Republicano da Flórida, que eram vistos como mais leais a Donald Trump. 

Sobre a candidatura à presidência, ainda não se sabe muito. Porém, em conjunto com o seu amigo Elon Musk, lançou esta quarta-feira o mote e prometeu: “Estou a concorrer à presidência dos Estados Unidos para liderar nosso grande retorno americano”.  

Disse ainda aos americanos: “sabemos que nosso país está a caminhar na direção errada. Nós vemos com os nossos próprios olhos. E nós sentimos isso nos nossos ossos”. 

E deixou a promessa no Twitter: “se me eleger, pode acertar seu relógio para 20 de janeiro de 2025, ao meio-dia, porque no lado oeste do Capitólio dos EUA, farei o juramento de posse como o 47.º presidente dos Estados Unidos”, disse DeSantis. “Sem desculpas, vou fazer o trabalho”, sublinhou. 

De acordo com o canal americano CNN, a decisão de dividir o palco com Musk, que comprou o Twitter no ano passado e lidera um grupo de “fãs fanáticos de direita”, foi uma escolha estranha para um aspirante a Presidente, embora seja igualmente uma forma de atrair apoiantes de direita, que cada vez mais compõe os utilizadores da rede social. 

Como principais temas abordados nesta aparição na rede social, destacam-se as críticas à NAACP, a principal organização de direitos civis do país, apelidando-a como uma organização de esquerda, e acusando-a de proibir livros de uma “seleção que não é consistente com os padrões do estado”. 

Manifestou-se ainda contra a ação do Congresso de limitar as criptomoedas, um tema particularmente discutido no Twitter. 

“Tem todo o direito de utilizar a Bitcoin”, disse DeSantis, a que Musk respondeu aludindo à Dogecoin, a criptomoeda alternativa que o bilionário ajudou a tornar famosa. Na conversa que os dois iam tendo, o agora candidato sublinhou também que pretende controlar as burocracias federais e que será um utilizador frequente do Twitter a partir dessa quarta-feira. 

Como reações a este lançamento da campanha, destaca-se a do seu maior opositor, próprio Donald Trump, na sua rede social Truth Social, que inicialmente não apareceu para comentar. 

Mais tarde destacou que “o colarinho dele é grande demais”. 

Apontando ainda numa outra publicação: "Uau! O lançamento do DeSanctus no TWITTER é um DESASTRE! Toda a sua campanha será um desastre. VÃO VER!" disse. Seguiram-se a esta uma série de publicações de auto elogios a si próprio e ao sucesso da sua futura campanha.

Já a conta do Twitter do atual Presidente dos EUA, Joe Biden, publicou um ‘link’ para a sua própria página de arrecadação de fundos, onde troçando dos problemas técnicos que a transmissão do candidato republicano teve inicialmente, escreveu “Este link funciona”, partilhando a página de angariação de fundos da sua futura campanha para ser reeleito.