De acordo com o Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Transformadoras, Energia e Atividades do Ambiente do Norte (Site-Norte), as greves decorrerão entre as 14:00 e as 16:00, à semelhança do que já aconteceu na paralisação do passado dia 10.
As novas greves foram decididas num plenário realizado hoje e, segundo o sindicato, surgem na sequência de paragens forçadas de vários setores da empresa, que atua nos setores da energia, engenharia e mobilidade e tem visto a capacidade de produção comprometida devido à falta de liquidez para adquirir matérias-primas e pagar a fornecedores.
O Site-Norte tem vindo a reclamar a intervenção do Governo, enquanto “dono da Efacec”, para garantir que a empresa dispõe das matérias-primas necessárias para retomar a atividade com normalidade.
“O Estado, como dono da empresa, deve assumir o controlo da empresa com transparência e deve comprar matérias-primas para pôr a Efacec a trabalhar e a satisfazer as encomendas que tem em carteira”, defendeu Miguel Moreira, em declarações à agência Lusa.
Num comunicado divulgado na sequência da greve do passado dia 10, a administração da Efacec garantiu, contudo, que a empresa continua “a responder aos pedidos de clientes, a prestar serviço e a desenvolver novos projetos”.
“A empresa tem sentido o impacto global em todos os setores e áreas, devido à disrupção nas cadeias de abastecimento, causada pela pandemia, mas a produção mantém um ritmo variável dependendo das encomendas que tem em curso”, sustentou na altura.
A administração liderada por Ângelo Ramalho garantiu que “a confiança no futuro está assegurada, desde logo, pela carteira de clientes, dado que estão em curso novos projetos, resultado de novos contratos celebrados em 2021, para lá da carteira global que detém e que está a executar”.
Reiterando que “a empresa continua viável economicamente, comprometida e interessada no desenvolvimento da sua atividade”, a administração da Efacec assegura que “não está em risco o cumprimento das suas obrigações, nomeadamente com os seus colaboradores e todos os demais ‘stakeholders'”.
De acordo com o Site-Norte, a “falta de dinheiro para pagar aos fornecedores e para comprar matérias-primas” é, no entanto, “uma situação recorrente na Efacec, que se vem arrastando há muito tempo, mas nos últimos meses agravou-se”, levando à paragem de vários setores da empresa.
“Isto é algo que nós estranhamos bastante, porque não pretendemos que o Governo ponha lá dinheiro e que não queira saber para onde ele vai. Isto é uma empresa do Estado e o que nós defendemos é que a Efacec deve continuar na esfera do Estado e o Governo disponibilizar uma verba para comprar matérias-primas, mas ter o controlo dessa verba e fiscalizar para onde vai o dinheiro”, afirmou Miguel Moreira.
Salientando que sindicatos e trabalhadores estão “muito preocupados e apreensivos”, o dirigente do Site-Norte admite: “Se calhar, a intenção do Governo — como já aconteceu com outras privatizações — é pôr a Efacec numa situação difícil, fragilizada, para depois vender isto por ‘tuta e meia'”.
Miguel Moreira questiona “onde é que está o dinheiro” do financiamento de 70 milhões de euros à empresa que o Estado assegurou junto da banca e pede respostas “ao ministro da Economia e ao primeiro-ministro”.
Entretanto, o jornal Expresso avançou que a Efacec iria ter um novo financiamento garantido pelo Estado, entre os 30 e os 40 milhões de euros, com o aval do Banco de Fomento e destinado a garantir que a empresa tem capacidade para se manter operacional até à conclusão da reprivatização.
O Governo pretende que o processo de reprivatização dos 71,73% do capital social da Efacec atualmente nas mãos do Estado esteja concluído antes do final do ano, tendo a resolução do Conselho de Ministros que aprovou a terceira fase do processo de reprivatização, admitindo a participação dos dois grupos que apresentaram propostas vinculativas — DST SGPS e Sing — Investimentos Globais –, sido publicada em 08 de setembro em Diário da República.
Ao jornal Público, a Parpública adiantou que a terceira fase de negociações “iniciou-se no passado dia 28 de setembro, com diversos encontros com os investidores interessados na aquisição da referida participação social, devendo as propostas finais ser recebidas dentro de cerca de três semanas”.
A aprovação em Conselho de Ministros do decreto de lei para nacionalizar 71,73% do capital social da Efacec decorreu da saída do capital de Isabel dos Santos, filha do ex-Presidente angolano José Eduardo dos Santos, na sequência do envolvimento no caso ‘Luanda Leaks’, no qual o Consórcio Internacional de Jornalismo de Investigação revelou mais de 715 mil ficheiros que detalham alegados esquemas financeiros da empresária.
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