A agitação na sala fazia antever o momento que se seguia. Os fotojornalistas posicionavam-se no Wells Fargo Center, em Filadélfia, na busca da melhor fotografia. Ao alto, cartazes com a palavra “Michelle”. Era a estrela que se seguia para acalmar os ânimos dos nervosos congressistas democratas. Estávamos em junho.
“O que nós vamos decidir quando formos às urnas em novembro é quem é que terá o poder moldar os nossos filhos para os próximos quatro ou oito anos da sua vida”
Chegou com um vestido azul que combinava com o cenário, olhou para a câmara, sorriu. O teleponto ia correndo ao ritmo das suas palavras. Sem lugar a engasgos, numa postura de total descontração, bem diferente da Michelle que se tinha visto oito anos antes quando foi pela primeira vez à Convenção Nacional do Partido Democrata.
À época, em 2008, quando Michelle disse ao mundo porque a América devia confiar no seu marido, Barack Obama, o nervosismo tomava conta das suas palavras, e os aplausos acabavam por timidamente pautar as passagens mais importantes de um discurso que foi morno quando comparado com a participação deste ano na campanha de Hillary.
“O que nós vamos decidir quando formos às urnas em novembro é quem é que terá o poder moldar os nossos filhos para os próximos quatro ou oito anos da sua vida”, disse desta vez. Michelle tornou a decisão do voto pessoal. Ao dizer que a escolha de cada eleitor influencia diretamente a vida dos seus filhos, a atual primeira-dama aumentou a complexidade - e a responsabilidade - da escolha de cada um.
Michelle marcou uma postura diferente na Casa Branca. A primeira-dama fez questão não só de acompanhar o marido, mas de ter a sua própria agenda.
Pautou-se pela luta contra a obesidade infantil através da “Move! Campaign”, defendeu uma alimentação saudável para as crianças num país que tem como imagem de marca os grandes menus das cadeias de comida rápida, e lutou pela libertação das 276 raparigas que foram raptadas pelo grupo islamita Boko Haram, na Nigéria, com a hashtag "Bring our Girls Back" (tragam as nossas raparigas de volta).
Michelle é apoiante declarada de Hillary Clinton, a primeira mulher nomeada por um dos dois grandes partidos americanos. Hillary acabou por ver em Michelle um trunfo; alguém que era capaz de mobilizar multidões como uma qualquer estrela da cultura pop. E quando há um Donald Trump do outro lado, a ajuda de Michelle, Jay Z, Barack Obama ou Katy Perry em estados chave tem sido essencial.
“Quando eles se rebaixam, nós elevamo-nos”
Para o cargo de primeira-dama não se é eleito e, por isso, não se exercem funções oficiais e não se recebe salário. No entanto, a dedicação ao cargo é total, já que não se pode abdicar das responsabilidades inerentes ao facto de se ser a mulher do presidente dos Estados Unidos da América.
Este ano marca uma viragem. A primeira-dama pode dar lugar a um primeiro-cavalheiro. O termo pode parecer estranho, mas estas eleições podem marcar o regresso de Bill Clinton à Casa Branca, desta vez sem todas as preocupações de um presidente. Assim queiram os americanos.
“Quando eles se rebaixam, nós elevamo-nos”, dizia Michelle no discurso na Convenção Democrata, lembrando aos americanos que é por mulheres como Hillary que as suas filhas “acreditam que uma mulher pode chegar a presidente dos Estados Unidos”. Veremos se assim será.
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