“Tem a ganhar, talvez, pelo lado da experiência e da sensibilidade. Agora, um comissário não é suposto ir favorecer o seu país, porque não teria condições para decidir de uma forma equilibrada”, respondeu Elisa Ferreira, ao ser questionada sobre se Portugal, um dos incontornáveis beneficiários dos fundos estruturais, teria a ganhar por ter uma comissária responsável pela Coesão e Reformas no próximo executivo comunitário.

A comissária indigitada recordou que a Comissão Europeia “tem uma estrutura muito forte” e “regras muito rígidas” e que, como tal, “não há propriamente o risco de favorecer o país”.

“Um país como Portugal, que é um país de coesão e periférico, tem uma grande experiência, que tentarei absorver, para aplicar e trocar com outras experiências de outros países e, por outro lado, há uma sensibilidade que resulta do facto de termos testado muitas coisas historicamente e sabermos o que funciona e não funciona”, notou.

Em declarações aos jornalistas em Bruxelas, após se ter reunido com o presidente do Parlamento Europeu, David Sassoli, Elisa Ferreira enalteceu a relevância das pastas que irá tutelar, considerando-as “fundamentais”.

“Acho que há esta pasta antiga, mas que precisa de ser permanentemente reforçada e renovada, que é a política de coesão […]”, indicou, lembrando que “não é possível” haver um “sistema todo baseado na concorrência, em que os melhores ganham e os não tão bons vão ficando para trás”, e não haver “alguns mecanismos que redistribuam os ganhos e façam com que ninguém fique para trás”.

Quanto à área das Reformas, a comissária designada por Portugal considerou que “há, neste momento, uma abertura para que surjam condições” para que os países adotem políticas adequadas às suas realidades.

A primeira mulher designada por Portugal para o colégio de comissários falou ainda da presidente eleita da Comissão Europeia, revelando ter ficado convencida, depois de ouvir o seu discurso, em julho, no Parlamento Europeu, que Ursula Von der Leyen é “uma pessoa que quer fazer bem”.

Para a política portuense, foi particularmente relevante “ouvir uma pessoa que é alemã, que vem do Partido Popular Europeu, protagonizar questões como a necessidade de fazer uma garantia comum de depósitos, uma salvaguarda para a gestão dos bancos em crise”, ou ainda defender um orçamento para a zona euro, a ideia de flexibilizar o Pacto de Estabilidade e Crescimento e de criar “alguns mecanismos de entreajuda” que podem conduzir, no futuro, à criação de um subsídio de emprego europeu.

“Esta equipa é uma equipa em que eu conheço bastantes pessoas e que me parece que na sua maioria é gente que quer retomar o espírito europeu e trabalhar no reatar de laços de confiança entre os cidadãos e as instituições europeias, uma coisa que é absolutamente necessária, porque a crise deixou muitas cicatrizes ao nível de muita gente na Europa”, destacou ainda, referindo-se ao restante colégio de comissários.

A comissão no seu todo, incluindo a presidente do executivo, Ursula Von der Leyen, serão ainda sujeitos a um voto de aprovação no Parlamento Europeu, em 23 de outubro.