Após o momento de reflexão, o casal que veio de Setúbal contou à Lusa um dos motivos desta peregrinação em família. “Queríamos que eles [os filhos] percebessem que se trata da canonização de crianças, que não é só para crescidos. Que o caminho da consagração da fé também é para eles”, disse Ana, de 37 anos, olhando para José (8 anos), Manuel (7 anos), Teresa (4 anos) e Miguel (2 anos).
Os pastorinhos Jacinta e Francisco vão ser os mais jovens santos não-mártires da Igreja Católica.
Até 1989, a igreja não considerava que as crianças, pela sua idade, tinham capacidade de praticar, em grau heroico, virtudes que lhe permitiam ser elevadas a santos.
Para a conclusão com sucesso da beatificação dos dois jovens, os investigadores consideraram um exemplo de “virtude heroica” – condição de santidade para a igreja católica - a sua atitude, durante os interrogatórios de agosto de 1917, nos quais se mostraram prontos a morrer, recusando mentir.
O processo diocesano começou a 30 de abril de 1952, para avaliar a vida, virtudes e fama de santidade de Francisco e de Jacinta, que contou com 140 sessões e 52 testemunhos.
A fase diocesana só foi encerrada em 1979 e o processo seguiu para o Vaticano. E em 1989, João Paulo II considerou que as duas crianças, apesar de não serem mártires, tinham “virtudes heroicas”, condição essencial para serem veneradas.
Hoje, o processo chega ao fim depois da beatificação (que permite o culto limitado), a 13 de maio de 2000. Com a canonização, serão considerados santos pelos católicos de todo o mundo.
Por isso, Henrique e Ana decidiram trazer os filhos para perceberem que é possível aspirar a santidade em qualquer idade.
“Também estão a perceber que a vida não se vive sozinha, que é universal. Eles têm visto pessoas de todo o mundo”, explicou Henrique, de 41 anos.
À Lusa, o pai contou ainda que esta família vem com muita regularidade a Fátima, onde faz questão de passar, nos últimos três anos, uma semana de férias no verão.
A par de assinalar a data de 13 de maio (data das “aparições”), a família de Setúbal realçou que a visita do papa ainda dá mais sentido a esta peregrinação familiar.
Com “muita alegria” e com “muito entusiasmo” para ver o papa Francisco, Henrique elogia a mensagem que o líder da Igreja Católica tem transmitido desde o início do seu pontificado.
“O sentido da família ganhou um novo fôlego”, destacou Henrique, salientando que o papa tem coroado o princípio de família através de “uma língua simples, amorosa e paternal”.
“É um homem santo para mim”, diz José de oito anos, a concluir a conversa, porque um dos irmãos mais novos quer andar mais pelo recinto do santuário.
“Em princípio podemos ficar até domingo. As crianças pediram. É uma questão que vamos negociar em família até lá”, diz Henrique, já a empurrar o carrinho “do mais novo” da família.
O papa estará hoje e sábado em Fátima para celebrar o centenário das "aparições" de 13 de maio de 1917 e para canonizar os beatos Francisco e Jacinta Marto.
Francisco é o quarto papa a visitar Fátima. Os anteriores papas que estiveram em Fátima, o maior templo mariano do país, foram Paulo VI (1967), João Paulo II (1982, 1991, 2000) e Bento XVI (2010).
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