"Temos de estar preparados na Europa para tentar manter a relação privilegiada que temos tido [com os EUA] e que tem sido uma garantia dos valores ocidentais, da democracia, da liberdade e da economia de mercado", disse o embaixador português.

Em declarações à Lusa por telefone, António Monteiro afirmou-se "surpreendido pela eleição" do candidato republicano à Casa Branca, mas sublinhou que o resultado parece inequívoco: "O próximo Presidente americano é Donald Trump, é com ele que temos de viver e conviver".

"Creio que temos de continuar a encarar isto como um facto ao qual temos de nos adaptar e conviver nos próximos anos, e garantir também que haja uma ordem mundial estável e segura", disse o embaixador.

Questionado sobre se Trump poderá pôr em risco essa ordem mundial, António Monteiro lembrou que "uma coisa é a campanha eleitoral e outra é o exercício do poder".

"O Presidente americano é muito poderoso, mas está condicionado pela Câmara dos Representantes e pelo Senado", afirmou, sublinhando que embora o partido republicano tenha garantido a maioria nas duas câmaras, há entre os republicanos "muita gente de grande qualidade que conhece os problemas internacionais".

Para António Monteiro, que foi embaixador de Portugal nas Nações Unidas e representante do país no Conselho de Segurança da ONU, a que chegou a presidir, é preciso acreditar "que as instituições [norte-americanas] farão o seu papel, terão a sua força e condicionarão o exercício de poder do presidente".

"As instituições americanas são democráticas, são instituições fortes. Não é uma democracia frágil, pelo contrário, é uma democracia líder", reiterou.

Lembrou ainda que o próprio Donald Trump já demonstrou, no discurso de vitória, que "adotará agora uma posição que já não será de campanha eleitoral, mas sim de futuro líder da maior democracia do mundo".

O embaixador português defendeu que neste momento é preciso "analisar as causas, mas sobretudo interpretar a democracia no seu sentido mais amplo".

Para Monteiro, é preciso "respeitar o voto popular, viver com ele, e sempre com uma atitude positiva".

"Não podemos antecipar catástrofes em relação à eleição de Donald Trump, mas pelo contrário, devemos procurar encontrar os pontos comuns que nos permitam continuar a defender no futuro os valores ocidentais", concluiu.

O candidato republicano à Presidência dos Estados Unidos, Donald Trump, venceu as eleições, derrotando, contra o que previam as sondagens, a adversária democrata, Hillary Clinton.

No discurso de vitória, Donald Trump garantiu que será o Presidente de todos os americanos e que é hora de os norte-americanos curarem as feridas da divisão e se juntarem "como um povo unido".