Promovido pela Associação Empresarial de Portugal (AEP) junto de 1.020 empresas associadas, de todo o país e de vários setores de atividade, o inquérito conclui que “cerca de 40% de empresas registaram aumentos superiores a 200% no gás natural”, enquanto uma em cada seis empresas registaram aumentos superiores a 200% na eletricidade e três em cada cinco registaram aumentos superiores a 20% nos combustíveis.

Adicionalmente, “cerca de dois terços das empresas refere não ter benefício na fatura de energia elétrica” com a implementação do Mecanismo de Ajuste do Mercado Ibérico de Eletricidade, destinado a evitar uma escalada dos preços da energia e mais de um quinto diz não conseguir “aferir da existência ou não de benefício, pelo facto de esta componente não surgir de forma autónoma na fatura.

Segundo a AEP, “apenas uma pequena percentagem de empresas (uma em cada oito) refere registar benefícios” com este mecanismo.

“Os resultados do inquérito da AEP confirmam o que temos vindo a alertar. As mais de mil empresas que responderam às questões demonstram grande preocupação e mostram enorme apreensão quanto à escalada dos custos de energia e à incapacidade de os repercutir no preço final dos bens”, afirma o presidente da AEP, Luís Miguel Ribeiro, à Lusa.

Para este responsável, “é imperativo reduzir a tributação sobre a energia, já elevada no contexto europeu ainda antes da pandemia e da guerra; criar outras medidas efetivas e eficazes para ajudar as empresas a mitigar a subida exponencial de custos de produção, em especial na energia, que passa por alocar de modo predominante, célere e imediato os fundos europeus (Portugal 2030 e reorientação do PRR) para as empresas (fundamentalmente, para a reindustrialização, incluindo investimentos na eficiência energética)”.

Caso estas medidas não se concretizem, no inquérito da AEP, “as empresas apontam para a necessidade de redução da atividade (algumas apontam mesmo para a possibilidade do encerramento de unidades de produção) e para a diminuição das intenções de investimento”, reforça Luís Miguel Ribeiro.

Das conclusões do inquérito resulta ainda que “cerca de metade das empresas tem um peso dos custos de energia nos custos operacionais inferior a 20% e cerca de um terço entre 20% e 40%”, mas “quase metade” (47%) das empresas afirma que “não consegue repercutir o aumento dos custos da energia no preço dos produtos, face ao impacto que teria na perda de competitividade e na carteira de encomendas”.

A esta questão, apenas uma em cada 12 empresas respondeu que será capaz de repercutir nos preços dos produtos o aumento da fatura energética.

No que se refere à situação atual dos contratos da eletricidade, após a implementação do mecanismo extraordinário, “a maioria das empresas ainda mantém o contrato de eletricidade anterior à implementação do mecanismo, enquanto 30% teve de efetuar novo contrato por denúncia do anterior”.

A redução de atividade e a modificação nas gamas de produtos são as alternativas mais referidas pelas empresas face ao aumento dos custos de energia, enquanto o recurso ao ‘lay-off’ ou o encerramento parcial de unidades de produção são apontados por perto de um quinto das empresas, em cada caso.

Pelo contrário, o incremento do teletrabalho não é apontado como solução, o que a AEP explica com o facto de “não se adequar à indústria transformadora, onde o inquérito regista uma elevada percentagem de respostas”.

Quanto ao impacto esperado da evolução dos custos da energia nas intenções de investimento das empresas a curto prazo, verifica-se que “a larga maioria das empresas (cerca de 80%) antevê uma redução assinalável das intenções de investimento, sendo que em mais de um terço das empresas é esperada uma redução muito significativa”.

Para mitigar o impacto do aumento dos custos da energia na sua atividade, a “quase totalidade das empresas defende a descida de impostos sobre a energia e o apoio célere dos fundos europeus”, nomeadamente “a realocação do PRR [Plano de Recuperação e Resiliência] para combater a crise energética” e “apoiar o investimento em equipamentos mais eficientes e novas energias alternativas”.

Outras medidas que mais empresas defendem são a redução da carga fiscal sobre os salários e sobre o capital, e a diminuição do IVA para a aquisição de equipamentos para produção de energias verdes, assim como iniciativas de apoio à tesouraria e a revisão do novo mecanismo do MIBEL.

O regresso às moratórias de capital é outras medidas apontadas pelas empresas, a par da desburocratização e agilização do processo de atribuição de autorizações para produção de energias verdes e da redefinição da agenda da descarbonização no sentido de redução de custos com licenças de emissão de dióxido de carbono (CO2).