Quase três décadas após a abertura da ponte, em 1991, ainda é possível viajar de “ferryboat” entre as localidades fronteiriças de Vila Real de Santo António, na região portuguesa do Algarve, e de Ayamonte, na província espanhola de Huelva, como nos tempos em que essa era a única forma de passar de Portugal para a Espanha, mas hoje já não há filas de automóveis a aguardar a sua vez de entrar na embarcação e só o turismo garante o sustento da travessia.

Atualmente, não se esperam horas para entrar no “ferry” e a ligação de 15 minutos entre as margens portuguesa e espanhola do Guadiana passou a ser vista como “um passeio”, disse à agência Lusa o gerente da empresa de transportes do Guadiana, Francisco Santos.

“Aqui em Vila Real [de Santo António] isto está muito pela pele, como se costuma dizer, porque aquilo que se faz é praticamente para pagar os ordenados do pessoal, combustível e tudo mais, as responsabilidades da empresa”, afirmou o gerente da empresa que assegura a ligação fluvial, frisando que a afluência, após a abertura da ponte, “quebrou bastante”.

A esta alteração na forma de transporte entre os dois países, vieram nos últimos anos somar-se as dificuldades criadas à operação pela degradação do cais de acostagem em Vila Real de Santo António, criticou Francisco Santos, referindo-se à estrutura requalificada há cerca de um ano e inaugurada recentemente pela ministra do Mar, Ana Paula Vitorino.

O gerente da empresa de transportes do Guadiana lamentou que a obra do cais tenha demorado “um ano e qualquer coisa a ser concluída” e “sem passar carros”, o que “acarretou um prejuízo para a empresa”.

“Mas a coisa é para ir andando, ir aguentando, porque isto agora é mais uma atração turística, um passeio para passar até Ayamonte, porque já não se faz o que se fazia no passado”, disse ainda Francisco Santos.

O capitão do porto de Vila Real de Santo António, Pedro Palma, disse à Lusa que o cais recentemente requalificado “representa a porta de entrada para Portugal” e é “um complemento” à ponte rodoviária, mas constitui também “uma grande mais valia” para a Autoridade Marítima.

“É aqui que está previsto no Plano de Emergência fazer a abordagem de qualquer ferido e de qualquer situação que possa ocorrer no mar”, justificou Pedro Palma, acrescentando que a estrutura permite ter “ambulâncias à porta” e dar “facilidade de manobra para as embarcações acostar”.

“A ponte continua a funcionar, funciona, mas há este mito de todas as pessoas mais antigas quererem mostrar aos seus filhos como era antigamente [a passagem de ‘ferry’] e manteve-se, quanto a mim muito bem, esta capacidade de poder transportar automóveis através desta embarcação”, considerou o capitão do porto.

António Santos, mestre do Campino, embarcação portuguesa que faz a travessia fluvial, também reconheceu que trabalhar com este novo cais “é mais difícil do que com o velho, porque é mais baixo e as borrachas, em vez de estarem inteiras, estão aos pedaços”, e hoje é o turismo que garante a viabilidade da travessia.

António Santos disse também que, quando há feriados, “há movimento, mas o resto do inverno vive-se com os estrangeiros”, porque os “portugueses, de Vila Real até Tavira, vêm de carro, fazem as compras e abastecem de combustível, e sai-lhes mais barato”.

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