Segundo o jornal The Guardian, várias escolas estão a ser construídas sem uma sala de professores. Por outro lado, as escolas mais velhas estão a substituí-las por salas de aula ou bibliotecas, deixando os professores sem um espaço de encontro.

Alice Edmond, que dá aulas em Espanha, começou a sua carreira numa escola em Milton Keynes que foi construída em 2009 sem um espaço para os docentes. A professora relembra, ao The Guardian, o que lhe foi dito na altura. “A escola tinha muito espaço, poderia ter incluindo facilmente uma sala de professores mas foi-me dito que a escola não queria uma”. Já Anish Mann, professor de física, que diz ter lecionado numa escola que também não tinha sala de professores, alerta para as consequências inerentes a esta decisão. “Se não deixam os professores falarem entre si, eles não partilham as suas queixas”.

A questão das salas de professores tem sido precisamente uma preocupação do Sindicato Nacional de Professores (National Union of Theachers). De acordo com o The Guardian, este assunto tornou-se um problema em 2012, quando foram feitas alterações no Regulamento da Educação, eliminando a obrigatoriedade de os professores terem um espaço social. As novas alterações fizeram, assim, cair a exigência 6. (2): “Todas as escolas, além de uma unidade de referência para os alunos, devem incluir instalações para os professores que sirvam propósitos de trabalho ou propósitos sociais”.

Em 2012, Mike Britland, professor em Bournemouth, escreveu um artigo no The Guardian sobre as alterações no Regulamento. Para o professor do departamento de informação e comunicação tecnológica, as salas de professores são o espaço onde as ideias nascem, as queixas são transmitidas e onde os professores descansam. “Os professores são o coração de uma escola. Esse coração precisa de recuperar. Sem o coração, o cérebro não pode funcionar”.

Segundo Mike Britland, a alteração no regulamento é politizada. “A coligação [de David Cameron e Nick Clegg] não pode fazer nada ao sindicato da educação. Eles não podem banir o sindicato mas podem remover as regulações que permitiam mais facilmente a congregação dos professores”. “Ao remover esta área comum, eles limitam o tempo em que os professores se misturam, e o tempo que pode originar a discórdia e revolta”, acrescenta.

Em 2017, 5 anos depois do novo regulamento, são várias as escolas em Inglaterra que optam por não ter uma sala para os professores. Kevin Courtney, secretário-geral do Sindicato da Educação, diz que esta alteração tem sido uma queixa comum entre os membros do sindicato. “Suspeitamos que alguns gestores escolares não querem que os professores conversem”, diz ao jornal inglês.

“Parece que algumas das novas academias são anti-sindicalistas, e as discussões sindicalistas podem começar facilmente numa sala de professores. É uma visão ‘pequena’, porque as escolas com boas relações sindicais são geralmente mais felizes”.

Por outro lado, algumas das escolas que não tem uma sala comum para os professores tentam arranjar outras alternativas, como é o caso da Waingels, localizada em Berkshire. Esta escola, construída em 2015, é desenhada em torno de áreas de trabalho. Por exemplo, existe a “zona verde” que é destinada aos assuntos da matemática e da ciência. Assim, cada equipa de cada área tem um departamento onde pode trabalhar e socializar. Para o vice-diretor da escola, John Salberg, esta é uma solução melhor que a convencional sala de professores. “Como são vistas como zonas de trabalho, o foco está no trabalho colaborativo entre as equipas e os departamentos”.

John Salberg reconhece que o modelo adotado pela escola dificulta a interação de vários departamentos. Contudo, considera que existem outras maneiras de colmatar o problema - como encontros de equipa - que fazem com que as salas de professores não sejam necessárias.