Sónia Cunha, responsável do Centro de Apoio Psicológico e Intervenção em Crise (CAPIC) do INEM, esteve no terreno a coordenar cerca de 60 psicólogos de várias instituições que estiveram a trabalhar num contexto de emergência até quinta-feira, na zona afetada pelo incêndio que deflagrou em Pedrógão Grande, distrito de Leiria, e que provocou 64 mortos e mais de 200 feridos.

A partir desse momento, sublinha, deixa de haver uma necessidade de emergência, mas uma necessidade de continuidade dos cuidados, e, por isso, "não seria benéfico" continuarem 60 psicólogos no terreno.

"As pessoas têm de ter o seu tempo, a oportunidade de elas próprias alocarem e ativarem os seus recursos", explicou à agência Lusa Sónia Cunha, vincando que é importante "procurar a proatividade das pessoas", permitir-lhes que se consigam "reestruturar".

O papel dos psicólogos "é de apoio, de acompanhamento. Não implica que as pessoas tenham consultas diariamente".

Nesse sentido, as equipas multidisciplinares que estão no terreno - que contam com um psicólogo em cada uma - "são suficientes" para fazer o trabalho de continuidade.

"As pessoas regressaram aos seus lares ou a casas de familiares ou habitações provisórias. [A partir de quinta-feira] deixou de existir a necessidade de estabilização emocional, de intervenção psicológica das equipas de emergência", realça.

Porém, "não houve uma retirada do apoio psicológico. Houve uma passagem para uma fase seguinte. Aquilo que é importante é a tentativa de normalização da vida da comunidade. É importante as pessoas terem a possibilidade de se organizarem, de terem consciência das suas necessidades, de como se sentem".

Segundo Sónia Cunha, as necessidades nos primeiros momentos de resposta em situação de emergência passaram pela estabilização emocional, bem como pela localização de familiares, "que houve muitos desaparecidos".

"É necessário haver informação coerente, correta e idónea", sublinhou, considerando que, mesmo agora, é importante assegurar que a informação que corre "é fidedigna, porque tem impacto na comunidade".

Segundo Sónia Cunha, "circula muita informação e pode ter impacto e efeitos negativos sobre a população. Surgiu, ao longo dos dias, muita informação que não correspondia à verdade".

Em relação às situações de maior risco, a coordenadora do CAPIC sublinha que as equipas que estão no terreno, por terem um trabalho de proximidade, "vão estar atentas" a tais casos.

No entanto, a especialista sublinha que, apesar de todos os estímulos negativos associados a uma catástrofe, "as pessoas têm recursos para lidar com a adversidade".

"O que importa é ajudá-las a reativar esses recursos", defendeu, considerando que o papel do psicólogo não vai no sentido de criar "dependência, mas sim autonomia".