Vamos propor-lhe um desafio, o mesmo que foi proposto a todos os que assistiram ao primeiro encontro da edição de 2020 do Rock in Rio Innovation Week.

Há quantos anos foi inventada a roda?

Talvez não saiba com precisão. São milhares de anos, quantos milhares?  Há mais de seis mil, segundo os registos.

E a mala? Há quantos anos existe como objeto? Talvez não seja nem tão antiga, nem tão recente quanto julga - aponta-se para o século VI.

Continuando neste roteiro, quando foi inventado o trolley? Mais fácil, este objeto contemporâneo? Ao que se sabe, a primeira patente será de 1970, registada por Bernard Sadow.

Não são perguntas à toa, apesar de este ser um exercício que funciona bem quando se quer envolver uma plateia num diálogo em vez de um monólogo. Que foi exatamente o que Paulo Pisano, diretor de recursos humanos da Galp fez nos minutos em que subiu ao palco (que na realidade não era palco) na apresentação no LACS de Conde de Óbidos, em Lisboa, da edição deste ano do Rock in Rio Innovation Week.

Para quê ou porquê? Porque a ideia era falar de inovação e qualquer um dos exemplos acima são histórias de inovação. Mas, na realidade, isso não é o mais importante. Então, há 6000 anos inventámos a roda, há 15 séculos a mala ... e só há menos de 50 nos lembrámos do trolley que não é mais que uma mala com rodas? Este é o remate que faz a plateia primeiro rir e depois guardar na memória qualquer uma das datas. Porque a inovação é matéria humana e poucas coisas são mais humanas do que a necessidade de contarmos histórias que nos ajudem a perceber o mundo.

E esta é uma história que cai que nem uma luva no mote que Agatha Arêas, a vice-presidente da Unidade de Learning Experience do Rock in Rio, trouxe para apresentar a edição deste ano. "De 2018 para cá fizemos uma evolução na forma como olhamos a inovação e o que percebemos é que mais que tecnologia faz cada vez mais sentido falar de inovação humana", explicou. Uma abordagem que é justificada pela experiência das duas edições que já decorreram e também por  alguns indicadores. Como, por exemplo, qual é a competência mais pesquisada pelos recrutadores no LinkedIn. É a criatividade e provavelmente não surpreende ninguém.

Experiência, interação e aprendizagem são, por isso, algumas das palavras-chave desta edição do Innovation Week, que se realiza de 23 a 26 de junho no LACS. São 120 horas de conteúdos e diversas metodologias, entre workshopstalks interativas, sessões de networking e espetáculos musicais que pretendem desafiar gestores, empreendedores, freelancers e universitários a refletirem sobre as atitudes a adotar para alcançarem os seus objetivos e contribuirem para um futuro melhor - quer a nível pessoal, quer profissional. “Auto-conhecimento”, “Relações Humanas” e “Criação de Futuros Desejáveis” são as áreas que vão ser exploradas e que se desdobrarão em diversas temáticas como inteligência emocional, mentalidade de crescimento, produtividade, foco e liderança pessoal e coletiva, entre outras capacidades que apenas o ser humano pode ter, num mundo cada vez mais automatizado.

No primeiro encontro, ou meetup como é designado no programa, a proposta foi falar de todos estes temas a partir da música - que é o ADN do Rock in Rio. “O que o jazz nos pode ensinar sobre liderança dinâmica?” foi o tema proposto e Mário Rosa, responsável de business development na Echos, uma escola de design thinking, procurou responder a esta pergunta da forma como, comprovadamente,  apreendemos novas ideias - e que é mostrando ou, neste caso, ouvindo.

Mas antes algum contexto. Numa época em que a inovação é uma espécie de palavra mágica para todos os contextos da atividade humana, como é que inovamos? Ou, sendo mais caricato, faz sentido pensar em inovação como algo que se executa numa lógica meramente funcional ou se manda fazer? A pergunta levou Mário Rosa a fazer uma viagem sobre modelos de liderança, das formas centralizadas aos diversos tipos de descentralização e ao modelo em que todos os pontos de um determinado sistema de comunicação comunicam uns com os outros.

Modelos que podem ser teóricos, mas que, na realidade, espelham situações quotidianas bem conhecidas. Por exemplo? Uma herança hierárquica que nos acompanha e que, consciente ou inconscientemente, nos faz tantas vezes procurar por alguém - chefe, mãe ou pai ou qualquer outro tipo de autoridade - que decida por nós e nos alivie, ou desresponsabilize, desse "fardo". Um processo que permanece em muitas organizações e contextos, mas que se mostra cada vez mais incapaz de dar resposta a uma sociedade em rede, cada vez mais ligada e em que o conhecimento é potenciado pela partilha.

E se há forma de expressão que permite elaborar sobre todos estes temas, o jazz é certamente uma das que melhor se adequa. Foi isso que aconteceu com três músicos que, apesar de se conhecerem, não tinham qualquer pauta prévia definida e que interpretaram dois temas que os presentes ouviram com uma folha A4 com questões à frente a que, distribuídos em grupos de dois, responderam.

"Está claro quem é o líder da banda?", "teve algum músico que se destacou mais do que os outros?", "como funciona a comunicação entre os músicos?, eram algumas das questões colocadas. E também, afinal era uma jam session, "qual é a relação entre improviso e inovação?". Não será surpresa que, neste contexto, liderança, comunicação, erro sejam entendidos de uma forma muito mais aberta. Não há líder - todos são líderes e todos são seguidores, dependendo de um momento. Quando um músico lidera, os outros cooperam e acompanham - e o inverso também acontece. A comunicação é corporal, é intuitiva e é pela partilha do conhecimento comum - neste caso, a música. E o erro, existe? "Erramos, claro, mas não damos muita relevância. Seguimos em frente", respondeu um dos músicos.

Se chegou até aqui no texto, se se interessa por esta coisa que é a forma como nós, humanos, aprendemos, comunicamos e, consequentemente, inovamos, não há muito mais que se possa acrescentar em matéria das conclusões a que podemos chegar a partir de uma jam session. Uma nota para os mais curiosos: "Kind of blue", de Miles Davis, que foi gravado pelo conjunto de músicos quase de uma assentada (em duas sessões) é aclamado por muitos críticos como o melhor do músico e é o mais vendido da história do jazz.  Sem ensaios, apenas com um rascunhos de escalas sobre as quais iriam improvisar. "Só pode ter sido concebido no céu", disse sobre ele o baterista Jimmy Cobb. Foi na terra e não terá acontecido por coincidência.

Nesta 3ª edição, a Galp continua a ser o founding partner do Rock in Rio Innovation Week, e juntam-se ao grupo de promotores a Randstad Portugal, a Sociedade Ponto Verde, a EiMigrante (já repetente segunda edição consecutiva) e a BLIP.

Os próximos meetups em Lisboa estão agendados para 18 de fevereiro, 19 de março, 16 de abril e 19 de maio, no LACS.

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