À agência Lusa, em antecipação do debate do estado da nação, a líder parlamentar do PCP, Paula Santos — em substituição de João Oliveira — aponta que a pandemia de covid-19 “deixou claro” problemas que não são de agora, “mas que ficaram mais evidentes perante os olhos de todos, por exemplo, os profundos problemas estruturais” que Portugal enfrenta.

“A epidemia, de facto, deixou claro um conjunto de problemas estruturais que exigem respostas de fundo e daí nós consideramos que a solução não passa por um regresso ao passado, de cortes nos salários, de cortes nas pensões, de uma política de exploração e de empobrecimento e que levou de facto à degradação das condições de vida”, avisa.

A deputada comunista recorda que “foi com a reposição de direitos e de rendimentos que foi possível avançar e que foi possível o crescimento económico”, tendo também demonstrado que os portugueses não estavam “condenados nem era uma inevitabilidade essa política dos cortes dos salários e dos rendimentos dos trabalhadores e dos reformados”.

“O reforço do investimento público é fundamental para o desenvolvimento económico e social para assegurar que as funções sociais do Estado são garantidas para todos, para assegurar desenvolvimento e prosperidade, melhores salários, mais direitos e o desenvolvimento da nossa economia”, sintetiza.

Estes são alguns dos aspetos que, segundo Paula Santos, “estarão presentes no debate do Estado da Nação” uma vez que a pandemia tornou evidente a “centralidade do trabalho” na vida e na sociedade, exigindo-se assim medidas capazes de potenciar a criação de emprego e, por outro lado, reforçar os direitos laborais.

Questionada sobre eventuais entendimentos com o PS para a próxima sessão legislativa, a líder parlamentar comunista começa por referir que no orçamento suplementar o PCP identifica “uma convergência entre o PS e o PSD num conjunto de aspetos”, considerando que este é “um documento profundamente desequilibrado entre capital e trabalho e sempre a favor e benefício das grandes empresas e dos grupos económicos”.

“O PS é que tem de fazer as suas opções, de facto, de que lado é que tem estado”, refere, identificando um conjunto de opções políticas dos socialistas que os comunistas não acompanham.

Na perspetiva da deputada do PCP, “num conjunto de opções centrais, o PS tem feito a opção, de facto, pela defesa dos interesses das grandes empresas e do capital”.

“Mas o PS é que tem de definir qual é que é o seu lado e quais são as suas opções políticas”, reitera.

O debate do Estado da Nação, com que a Assembleia da República encerra o ano parlamentar desde 1993, estava marcado para quarta-feira, mas a pedido do primeiro-ministro, António Costa, devido ao Conselho Europeu, foi adiado dois dias, realizando-se na sexta-feira de manhã.