Esta é uma das conclusões preliminares do estudo “Religião e espaço público” da Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS) e do Centro de Investigação em Teologia e Estudos de Religião da Universidade Católica Portuguesa, realizado por Helena Vilaça, Jorge Botelho Moniz, José Pereira Coutinho, Margarida Franca, Steffen Dix e coordenado por Alfredo Teixeira.
Entre os poucos que dizem ter sido vítimas de situações de discriminação, as ocorrências tendem a concentrar-se nas esferas da sociabilidade amical e familiar.
O estudo surge na continuidade de um inquérito sobre Identidades Religiosas em Portugal, de 2011, e procura agora uma melhor definição dos contornos da paisagem religiosa na Área Metropolitana de Lisboa (AML), que à escala do país é a região que apresenta maior diversidade quanto às posições face à religião e aos tipos de pertença religiosa.
A AML, referem os autores, pode ser lida como um “laboratório da diversidade religiosa” em Portugal, e este estudo pretende, através de um efeito “zoom”, uma melhor definição dos contornos da paisagem religiosa nesta região tendo os inquéritos sido realizados entre 02 de junho e 15 de julho de 2018 a 1.180 residentes no concelho de Lisboa, restante zona norte do Tejo e Margem Sul e Península de Setúbal.
Segundo a investigação, a AML é uma das regiões onde o peso relativo dos católicos é menor, com pouco mais de metade da população a declarar-se católica (54,9%).
Por outro lado, o número de pessoas que declara não pertencer a nenhuma religião é cada vez mais significativo, situando-se nos 35%.
O peso dos não crentes dentro do grupo dos que dizem não pertencer a uma religião aproxima-se dos 22%.
Fora do universo católico, o conjunto dos crentes ascende aos 9,2%, número que segundo explicou Alfredo Teixeira à agência Lusa, mostra alguma estabilidade relativamente aos dados anteriores.
“Esta estabilidade não deixa de ser um facto significativo, menos dependente de fluxos migratórios como aconteceu no passado”, disse.
Comparativamente com o inquérito de 2011, adiantou Alfredo Teixeira, o grupo que cresce é o dos sem religião e dentro deste existe um número significativo dos que se dizem crentes embora não pertencendo a uma religião.
“São pessoas que mesmo não tendo uma religião não se identificam com a não crença “, explicou.
Na AML é assim possível afirmar que se verifica uma diminuição da maioria histórica dos católicos, a progressão dos sem religião e a estabilização, em termos gerais, do conjunto das chamadas minorias religiosas.
Ainda segundo o estudo, a maior parte da população inquirida conheceu algum tipo de socialização religiosa na infância, quer na escola, quer na família, mas que esta não garante a reprodução das posições religiosas.
Na região de Lisboa 32,4% da amostra é natural da sua área de residência, 52,4% natural de outros concelhos de Portugal e 15% de nacionalidade estrangeira.
O estudo revela também que as práticas religiosas rituais e coletivas não chegam a 12% dos casos e que o ato de ir à missa, ao culto ou a outro ato religioso tem um peso similar a outras práticas, como “passar o fim de semana fora” ou “fazer desporto”.
Já no universo dos católicos 15,8% declaram ir uma vez por semana ao culto.
Em termos gerais, os autores do estudo referem que é possível dizer que, para uma grande parte da população, a frequência de contactos cultuais não faz parte da cultura do fim de semana.
Apenas uma pequena parte da população inquirida entende que frequentar os lugares de culto é uma obrigação e a crescente autonomia face às instituições religiosas, a par da liberdade crescente no que diz respeito às práticas cultuais comunitárias, faz com que as questões religiosas sejam cada vez mais compreendidas como uma opção pessoal e menos como um dever ou obrigação.
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