O centenário é celebrado no mesmo dia do feriado “Memorial Day” nos Estados Unidos, que homenageia os heróis e combatentes mortos em guerras na última segunda-feira de maio.
A memória deste capítulo da história norte-americana, em que uma comunidade de negros foi queimada e destruída por uma multidão de brancos, reemerge depois de “décadas de silêncio partilhado por perpetradores, vítimas e seus descendentes”, descrevem vários ‘media, designadamente o The Washington Post.
O tumulto aconteceu na cidade de Tulsa, Estado de Oklahoma, e foi envolto em rumores, sendo que o próprio ataque à comunidade negra foi causado por boatos.
Passados 100 anos, não se sabe ao certo o número de mortos, que o Estado de Oklahoma assume ser de 36, mas que para alguns historiadores e grupos de investigação chegam até 300, na maioria afro-americanos.
Massacre Racial de 1921
A comunidade negra mais rica nos Estados Unidos, na cidade de Tulsa, na zona Greenwood ou, como era conhecida, Black Wall Street, foi queimada entre 31 de maio e 1 de junho de 1921, por uma multidão de pessoas brancas.
Tudo começou quando dois grupos de homens, um de brancos e outro de negros, se confrontaram no escritório do xerife, em 31 de maio de 1921.
No centro da polémica, um jovem negro detido, de nome Dick Rowland, por alegações de assédio sexual a uma mulher branca dentro de um elevador.
O grupo de homens brancos vinha com potenciais planos de sequestrar e linchar Dick Rowland.
O caos instalou-se depois de vários tiros e no período de 24 horas uma multidão branca, “inflamada por rumores de uma insurreição negra, invadiu e queimou o distrito de Greenwood”, destruindo todos os 35 quarteirões, escreve a agência noticiosa Associated Press.
Segundo a Cruz Vermelha, 1.256 casas foram incendiadas, 215 foram saqueadas e deixaram sem abrigo milhares de afro-americanos, como destruíram inúmeros espaços de congregação e comércio da comunidade.
A Comissão de investigação do massacre, Race Riot Commission, com um relatório publicado apenas em 2001, 80 anos depois do motim, concluiu que cerca de 8.000 pessoas ficaram sem abrigo na altura e entre 100 a 300 pessoas morreram.
As acusações contra Dick Rowland foram retiradas horas após o massacre. A polícia concluiu que Rowland “provavelmente tropeçou ou pisou o pé da mulher branca dentro do elevador”.
Contexto histórico
Oklahoma, Estado fundado em 1890, prometia ser uma terra de oportunidades para a vida dos afro-americanos, para se poderem estabelecer em liberdade, num período recente da abolição da escravatura (1865).
Pelo contrário, uma das primeiras leis adotadas no Estado foi de segregação racial em transportes e estações de transporte.
Tudo que se seguiu demonstrou o facto de que os negros, libertados da escravatura, continuaram a viver em condições precárias e, muitas vezes perigosas, num sistema social racista.
Referências socioculturais na atualidade
O evento principal para a homenagem do centenário do Massacre Racial foi cancelado na última quinta-feira pela comissão organizadora, declarando “circunstâncias inesperadas com artistas e oradores”, mas continuam de pé muitos outros eventos relacionados, principalmente na cidade de Tulsa.
A Casa Branca anunciou que o Presidente dos EUA, Joe Biden, vai marcar presença, na terça-feira, nas comemorações de Tulsa dos 100 anos do massacre.
O Presidente está a tentar aprovar uma nova legislação para reduzir a violência policial, em nome do afro-americano George Floyd, morto há um ano.
O ano passado viu os distúrbios raciais mais graves do passado recente dos EUA, depois de, a 25 de maio, George Floyd ter morrido asfixiado sob o joelho de um polícia, Derek Chauvin, declarado culpado de três acusações de homicídio em abril deste ano.
A multidão branca que atacou a comunidade negra de Greenwood há 100 anos terá sido ajudada por polícias brancos também, segundo fontes históricas.
A cidade de Tulsa, onde se supõe que os mortos tenham sido enterrados em valas comuns, vai começar escavações numa área de cemitério para tentar encontrar restos mortais de vítimas do massacre.
Apesar de os manuais de história fazerem poucas ou nenhumas referências ao massacre de 1921, os 'media' norte-americanos estão a dar cobertura ao centenário e algumas séries televisivas chamam a atenção aos telespetadores para os distúrbios raciais de há 100 anos.
Por exemplo, depois do episódio de estreia da série “Watchmen”, da HBO, em outubro de 2019, as pesquisas na Internet sobre o motim aumentaram, com os telespetadores confusos sobre se as cenas de violência eram ficção ou se aconteceram mesmo.
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