“Infelizmente não tivemos nenhum contacto do Estado por parte de ninguém, nem do primeiro-ministro nem de outra entidade”, diz ao 7MARGENS o presidente da Comunidade Hindu de Portugal, Kirit Bachu, a propósito da possibilidade de reabertura de celebrações religiosas comunitárias no fim de semana de 30-31 deste mês.
Também na Aliança Evangélica Portuguesa (AEP), o seu presidente, António Calaím, percebe que António Costa esteja muito ocupado, mas dentro da federação de igrejas e comunidades evangélicas “há quem ache uma desconsideração” o facto de a AEP ainda não ter sido chamada e ouvida sobre o assunto.
“Não houve nenhum contacto até agora, temos estado à espera”, confirmou o presidente da Aliança, nesta quinta-feira, ao final da tarde, ao 7MARGENS, apesar de ter seguido uma carta para o gabinete de António Costa.
No país, 3,5& a 4% por cento da população identifica-se como evangélica. E, na região de Lisboa, essa percentagem atinge os 5%, conforme os dados do último inquérito sobre prática religiosa, conduzido por uma equipa da Universidade Católica. Na zona da capital, os evangélicos são, mesmo, o grupo religioso que mais cresceu nos últimos anos.
“Temos mais de mil lugares de culto em todo o país, o que significa menos atenção” a um grupo religioso importante, defende o presidente da AEP, que calcula em cerca de 200 mil o número de crentes representados pela Aliança – a maior minoria religiosa de Portugal.
A primeira vez com mesquitas fechadas no Ramadão
“Continuamos confusos, pois não sabemos se podemos abrir o nosso templo no dia 31”, acrescenta o hindu Kirit Bachu. Isto apesar de o Governo ter anunciado que, no plano de abertura progressiva de espaços, os lugares de culto poderão, em princípio, e dependendo da evolução da pandemia de covid-19 em Portugal, reabrir a partir de 30-31 de maio.
A questão é que há muitos pormenores práticos e regras de segurança a estabelecer e sem essa conversa inicial os hindus não sabem o que fazer. “Gostaríamos de ter sido contactados, tal como foram outras religiões.”
Entre os grupos religiosos minoritários em Portugal, os evangélicos, hindus e muçulmanos são os mais importantes, numericamente falando. E desses, apenas o presidente da Comunidade Islâmica de Lisboa (CIL), Abdool Vakil, foi ouvido pelo primeiro-ministro, no dia 24 de Abril.
Este responsável muçulmano conta que na conversa, feita através de vídeo, referiu ao primeiro-ministro ser a primeira vez que durante o Ramadão, o mês mais sagrado do islão, os muçulmanos não podem frequentar as mesquitas – tal como foi a primeira vez que os cristãos não celebraram a Páscoa nas suas igrejas.
“Infelizmente tem de ser assim, nem sequer há peregrinações nos lugares santos”, lamenta agora, ao 7MARGENS. “Muitos muçulmanos estão desejosos de poder voltar, mas temos de ter cuidado para ver como fazemos. Não podemos fazer entradas seletivas, porque não é possível restringir quem entra.”
Quatro dias antes da conversa com Vakil, António Costa abordara o mesmo assunto com o patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, em representação da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), num encontro em que se falou muito do adiamento da Jornada Mundial da Juventude. Aliás, foi no final dessa reunião que António Costa garantiu que iria encontrar-se com outras confissões religiosas.
No âmbito do conselho permanente da CEP, começaram já a ser preparadas, em articulação com a Direção-Geral da Saúde (DGS), várias orientações práticas para as celebrações comunitárias católicas.
“Urgência” de orientações
Os grupos minoritários reivindicam também a “urgência” e a possibilidade de ter orientações. Pelo menos, foi isso que, numa carta enviada precisamente esta quinta-feira ao primeiro-ministro, manifestou o presidente do Conselho Português de Igrejas Cristãs (Copic).
Jorge Pina Cabral, bispo da Igreja Lusitana (Comunhão Anglicana), lidera esta federação das igrejas do cristianismo protestante histórico – Metodista, Presbiteriana e Lusitana – e lamenta que até agora tenha havido apenas “a promessa”, como diz ao 7MARGENS.
“Nem da DGS tivemos notícias, apesar de termos urgência em saber como fazer e ter orientações”, diz. O presidente do Copic acrescenta, no entanto, que faz sentido serem também recebidos pelo primeiro-ministro.
O presidente da Aliança Evangélica, que é médico, assegura que as comunidades e igrejas que integram aquela federação estão “prontas para abrir a 31 de Maio”. António Calaím elogia mesmo a estratégia do Governo de ir acabando aos poucos com o confinamento. “Vejo a progressividade como algo benéfico e aceitável”, diz o especialista em Medicina Familiar.
A direção da AEP está mesmo a pensar se desafia os cristãos evangélicos “a reunir-se em lugares significativos das cidades para uma oração, com distanciamento, ao ar livre”, até por ser a véspera do dia de Pentecostes, uma das festas mais importantes do calendário cristão, depois do Natal e Páscoa.
Todos os anos a AEP organiza nessa altura a “Marcha por Jesus”. Este ano, por vontade do seu presidente, a manifestação seria substituída por uma concentração de algumas pessoas, mantendo as regras de segurança necessárias. Mas António Calaím diz que depende dos outros líderes.
Além das comunidades e religiões referidas, há outros grupos importantes, mas que não integram qualquer federação; na área do cristianismo, por exemplo, destacam-se as Igrejas Maná e Universal do Reino de Deus, além das Testemunhas de Jeová. Qualquer dos três congrega dezenas de milhar de crentes. De outras religiões podem citar-se as diferentes comunidades judaicas existentes no país (Lisboa, Porto, Belmonte…).
O 7MARGENS perguntou ao gabinete do primeiro-ministro se está previsto algum calendário ou audiência com as confissões religiosas, além das que já foram ouvidas. Para já, não há resposta.
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