“Pensamos que as eleições europeias deste ano são uma espécie de referendo: um referendo sobre o sucesso ou insucesso do Presidente [Emmanuel] Macron, isto no contexto político nacional, mas também no contexto europeu, e um referendo sobre o tipo de UE que os cidadãos querem”, afirma ex-diretor executivo da Agência Europeia da Guarda de Fronteiras e Costeira (Frontex) em entrevista à agência Lusa em Bruxelas.
Após ter exercido o cargo de 2015 a 2022, quando se demitiu por alegações de desrespeito dos direitos humanos de organizações não-governamentais, Leggeri concorre agora pelo partido de extrema-direita francês União Nacional às eleições europeias de junho de próximo. É o terceiro na lista.
“Queremos estar por dentro do Parlamento Europeu, das instituições da UE, como ‘insiders’ [parte integrante] para transformar a União Europeia de modo a que, por exemplo, possamos pôr termo àquilo que consideramos ser muito mau para os cidadãos — não só para os cidadãos franceses, mas também para outros cidadãos europeus”, sublinha o candidato nesta entrevista à lusa.
Falando em “preocupações partilhadas com diferentes Estados-membros da UE”, Fabrice Leggeri elenca a migração ilegal, o baixo crescimento económico, a burocracia da UE, a abertura do mercado único aos países terceiros e as metas ambientais do pacto ecológico.
“Somos muito generosos como europeus e consideramos que isso é ingénuo, nomeadamente em termos comerciais”, salienta.
Quanto à questão agrícola, após intensos protestos de agricultores europeus, especialmente franceses, o candidato defende “soberania alimentar” e que “os bens e os serviços europeus sejam protegidos”.
As eleições europeias estão marcadas para 06 a 09 de junho próximos, enquanto as eleições presidenciais francesas estão agendadas para abril de 2027.
Segundo as mais recentes sondagens, o União Nacional pode ser o partido mais votado nas europeias de junho de 2024, com cerca de 30% dos votos, à frente do partido liberal Renascimento (Renaissance), de Emmanuel Macron, e do Partido Socialista francês, que devem ocupar respetivamente o segundo e terceiro lugares, de acordo com as intenções de voto.
Em 2019, o União Nacional elegeu 18 eurodeputados de um total de 79 lugares em França. Agora, o país terá 81 eurodeputados após uma recente redistribuição.
No Parlamento Europeu, o União Nacional (Rassemblement National) faz parte da bancada parlamentar de extrema-direita Identidade e Democracia, no qual deverá ser integrado o Chega, caso eleja eurodeputados nestas eleições europeias de junho.
“Ficámos muito contentes pelo facto de o partido Chega ter conseguido 18% [nas eleições legislativas de março] em Portugal. Marine Le Pen [anterior presidente do grupo, agora liderado por Jordan Bardella] ficou animada”, aponta Fabrice Leggeri à Lusa.
Para o candidato, tal percentagem “pela primeira vez num país como Portugal, onde até há pouco tempo os patriotas não estavam representados, demonstra que há algo de errado na Europa” e que “as preocupações e os interesses dos cidadãos normais não são suficientemente tidos em conta”.
Já questionado sobre a integração do Chega no Identidade e Democracia, Fabrice Leggeri disse que isso “terá de se ver no final das eleições, qual é o número de lugares que existem e que outros colegas podem ter”.
Ana Matos Neves, da Agência Lusa
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