A acusação alegou que Paul Manafort, detido há quase dois meses, canalizou mais de 60 milhões de dólares (51 milhões de euros) em receitas da sua consultoria política na Ucrânia para contas ‘offshore’ e procurou fugir ao pagamento de impostos sobre uma parte “significativa” dos rendimentos.
Manafort criou empréstimos falsos, falsificou documentos e mentiu ao contabilista de forma a esconder o dinheiro que recebera de oligarcas ucranianos através de uma série de transferências de empresas e de empréstimos bancários obtidos de forma fraudulenta nos EUA, acusaram os procuradores.
O procurador Uzo Asonye disse ao júri, durante a declaração de abertura, que Paul Manafort se considerava acima da lei, tendo canalizado dezenas de milhões de euros para contas ‘offshore’.
Essa “receita secreta” foi usada para pagar uma vida luxuosa e despesas pessoais, como um relógio de 21 mil dólares (18 mil euros), um casaco de 15 mil dólares (13 mil euros) e mais de seis milhões de dólares (5,1 milhões de euros) em imóveis pagos em dinheiro, disse Asonye.
“Um homem neste tribunal acreditava que a lei não se aplicava a ele, nem a lei tributária, nem a lei bancária”, argumentou, na apresentação das provas reunidas pela equipa do procurador especial Robert Mueller para o julgamento de Manafort, acusado de fraude e evasão fiscal.
O julgamento de Manafort é o primeiro que resulta investigação de Mueller sobre potenciais laços entre a campanha presidencial de Donald Trump e a Rússia.
Contudo, no início do julgamento os procuradores não mencionaram o trabalho de Manafort para a campanha de Trump nem mencionaram a investigação mais ampla de Mueller sobre a suposta interferência russa nas eleições norte-americanas.
Mueller não esteve presente no tribunal.
Manafort, o único acusado por Mueller, que optou por ser julgado em vez de cooperar com a investigação, foi descrito pelo advogado de defesa como um consultor político internacional de enorme sucesso, que deixou os detalhes das suas finanças a terceiros.
A defesa alegou que o ex-diretor de campanha do atual Presidente dos Estados Unidos tinha uma equipa de especialistas em finanças para acompanhar os milhões de dólares que recebia pelo trabalho político na Ucrânia e para garantir que esse dinheiro fosse devidamente reportado às autoridades.
O advogado de defesa Tomas Zehnle disse que o cliente confiava especialmente no sócio Rick Gates, que se declarou culpado na investigação de Mueller e agora assume o estatuto de principal testemunha da acusação.
Mas essa confiança foi um erro, prosseguiu Zehnle, na declaração de abertura, procurando minar a credibilidade de Gates, um antigo assessor de campanha de Trump que passou vários anos a trabalhar para Paul Manafort na Ucrânia.
Zehnle avisou os jurados de que não se podia confiar em Gates e era o tipo de testemunha que diria tudo o que pudesse para se salvar de uma longa sentença de prisão e de uma séria penalização financeira.
“O dinheiro estava a entrar muito rapidamente. Era muito e Paul Manafort acreditou que Rick Gates estava a acompanhar isso”, acrescentou Zehnle, sublinhando que era para isso que “Rick Gates estava a ser pago”.
O julgamento, que será decidido por um júri de seis homens e seis mulheres, deve durar várias semanas.
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