O embaixador do Brasil em Washington de 2016 a 2019 acrescentou que a reeleição do republicano Donald Trump como Presidente pode traduzir-se em “continuidade”, mas “desconforto” para o Brasil, devido à guerra comercial com a China e que, em última análise, pode provocar a procura de novas alianças e uma “mudança no equilíbrio do poder num mundo multilateral”.
Para Sérgio Amaral, que falou hoje para a organização Americas Society, os dois países irão passar um “ponto de viragem” em 03 de novembro, dia das eleições presidenciais nos Estados Unidos.
Amaral destacou dois movimentos sociais que sobressaem da campanha de Joe Biden: uma “mudança fundamental na sociedade americana” e “um novo Acordo Verde”, movimentos reforçados pelos apoiantes do pré-candidato democrata Bernie Sanders, que na visão do brasileiro são um “grupo de pessoas jovens e muito ativas”.
O novo Acordo Verde significa uma maior participação do Estado na economia e na redução das desigualdades, explicou Sérgio Amaral, acrescentando que surge assim uma “incompatibilidade de agendas”.
“Com uma administração Biden, talvez as nossas agendas não se cruzem”, devido às políticas com o exterior promovidas pelo Presidente Jair Bolsonaro e às diferenças de políticas para o ambiente, explicou o ex-embaixador.
Sérgio Amaral acrescentou que o Brasil deve preparar-se para “fricções no sensível assunto da floresta amazónica”.
A administração de Biden poderá significar também um maior “isolamento do Brasil”, já que a União Europeia não quer ratificar o acordo Mercosul sem mudanças drásticas na política sobre a floresta amazónica e sem resultados nos valores de desflorestação.
Por outro lado, se Donald Trump for reeleito Presidente, “que não parece provável neste momento”, vai haver uma “continuidade”, declarou o antigo embaixador, do ponto de vista de uma “aproximação ao nacionalismo e populismo”, que também se pode ver na presidência de Jair Bolsonaro, no Brasil.
Com Donald Trump no poder, será continuada a guerra comercial com a China e os EUA vão obrigar a “escolher um lado”, previu Sérgio Amaral.
“É uma perspetiva desconfortável para nós, se se der continuidade do ‘conflito’ entre EUA e China, põe-nos numa difícil situação e dilema, de escolhermos um lado”, disse o diplomata.
“Não somos parte dessa disputa, temos interesses nos dois lados”, sublinhou.
O antigo embaixador defendeu que o Brasil quer e deve continuar as boas relações com os EUA e a parceria com a China. O país asiático é o principal investidor e um dos maiores parceiros comerciais do Brasil.
“Há muitos países com a mesma sensação e se esta confrontação [entre EUA e China] se deteriorar, vamos ter de procurar novas alianças no mundo”. O embaixador acredita que se isso vier a acontecer, será uma “mudança no equilíbrio do poder de um mundo multilateral”.
Ainda assim, notam-se “afinidades” entre os atuais Presidentes Jair Bolsonaro e Donald Trump, disse Sérgio Amaral.
O brasileiro congratulou-se por ter proporcionado, durante o seu mandato como embaixador, um “progresso substancial” nas relações bilaterais entre o Brasil e EUA, nas áreas da tecnologia, economia e defesa, entre outras.
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