O debate “Desafios às diferentes parentalidades” acontece quarta-feira, em Lisboa, e é organizado pela Quebrar o Silêncio – Associação de apoio a homens vítimas de abuso sexual, juntando também a Amplos – Associação de Pais e Mães pela Liberdade de Orientação Sexual e a HeforShe, campanha das Nações Unidas pelos direitos das Mulheres.

Em declarações à agência Lusa, o presidente da Quebrar o Silêncio explicou que o encontro pretende discutir como a parentalidade assume diferentes formas e como cada uma delas traz diferentes obstáculos.

Ângelo Fernandes deu como exemplo o facto de as mulheres, no mercado de trabalho, serem frequentemente confrontadas com a questão da maternidade, enquanto nos homens, quando querem tirar a licença de parentalidade, muitas vezes são mal vistos pelas empresas onde trabalham.

“Há aqui uma série de desafios que gostaríamos de abordar e perceber como é que eles se entrecruzam e como é que isso vai afetar a igualdade de género”, adiantou, sublinhando que há questões que são transversais a todas as famílias e outras específicas de cada núcleo familiar.

O responsável apontou que, pela perspetiva da AMPLOS, há, por exemplo, muitas famílias com filhos gays, lésbicas ou trans que, apesar da aceitação familiar, são muitas vezes confrontadas com obstáculos na escola ou no trabalho.

Por outro lado, pretendem também discutir como é que o uso do tempo pode influenciar os papeis e os estereótipos de género, abrindo o debate ao público.

De acordo com Ângelo Fernandes, o objetivo é compreender que “todas as famílias são únicas”, aceitando que cada família tem os seus obstáculos no que toca à parentalidade e que cada pai e mãe enfrenta diferentes desafios diários.

“Perceber como é que as famílias vivem as diferentes parentalidades, independentemente da sua tipologia, e como é que essas dificuldades podem ser partilhadas e compreendidas”, defendeu.

Na perspetiva da associação que representa, Ângelo Fernandes apontou que se defende uma “masculinidade cuidadora”, em que os “pais podem e devem participar na vida dos seus filhos”, com tarefas domésticas e parentais igualmente divididas.

“Para que não haja desigualdade quer nas tarefas, quer na forma como as crianças veem os pais e como esses modelos são reproduzidos”, sustentou.

Sobre a defesa dos direitos das famílias, Ângelo Fernandes acha que o caminho tem vindo a evoluir, fruto de estratégias e planos nacionais, mas admite que “ainda falta fazer algum caminho”.

“Na Islândia, mãe e pai têm direito a três meses de licença e depois podem pedir mais três e isto são políticas que permitem aos pais ter espaço e dedicarem-se à família. Em Portugal, temos homens que querem estar mais presentes, mas que, apesar de estar consagrado na lei, isso não é bem visto na empresa ou no emprego, como se fosse o papel natural da mulher ocupar-se dessas obrigações”, criticou.

O debate vai contar com a presença do psicólogo e professor universitário brasileiro Jean Von Hohendorff, Mónica Canário, pela HeforShe Portugal, Margarida Faria, presidente da AMPLOS, e Manuel Abrantes, técnico especialista no gabinete da secretária de Estado para a Cidadania e a Igualdade.